20.06.2022
Alexandre Pinheiro é um saxofonista e professor de música, originário de Belém do Pará (Brasil). Vive há cerca de três anos em Lisboa, onde se envolveu em vários projetos musicais, entre os quais se destaca a banda de afrobeat Carapaus liderada pelo guitarrista carioca Zé Vito e o projeto Pandeiro in Jazz, liderado pelo percussionista mineiro Juninho Ibituruna, ambos os projetos sediados em Lisboa. Em resposta à situação de atual emergência devida à pandemia do COVID-19 e à necessidade de promover iniciativas que possam avaliar e atenuar o impacto no âmbito das artes performativas, investigar os efeitos da crise, com enfoque no sector da música, documentar as estratégias aplicadas pelos artistas nas suas atividades criativas e de performance, o Projeto Ágora convida Alexandre Pinheiro, para compreender os efeitos provocados pela crise sanitária, quer no nível individual, quer no âmbito do sector cultural em Portugal.
Francesco: Olá bom dia Alexandre!
Alexandre Pinheiro: Bom dia Francesco! Tudo bem?
Francesco: Tudo bem! Bem vindo aqui nestas conversas do Projeto Àgora, podes te apresentar rapidamente?
Alexandre Pinheiro: Então, eu sou Alexandre Pinheiro, sou natural… sou brasileiro não é? Natural do Estado do Pará, Belém do Pará, que fica ao norte do país, sou saxofonista, músico, não é? Saxofonista e estou a viver em Portugal há três anos e de momento estou por aqui e continuo a vida de músico!
Francesco: Muito obrigado, te convidei para conversar rapidamente sobre toda a vivência e a experiência que tiveste, pronto… desde que chegaste, entraste logo no período de Covid e quarentena e etecetera. Gostava de saber como é que foi complexivamente esta vivência em termos digamos assim de profissão, de músico fechado em casa, como é que viveste este período?
Alexandre Pinheiro: Então, este período de pandemia eu já estava a cursar um mestrado que eu fiz… fiz na primeira parte, no princípio e veio a pandemia. Então, o processo da pandemia assim, para sobreviver como um músico… a parte artística, a questão do tocar música e de fazer música, eu me foquei muito nestes materiais que eu consumo na área de estudo de algumas coisas que preciso de esclarecer e estou esclarecendo, são duvidas minhas musicais antigas. A parte profissional, no caso da renda… de onde vem a renda logo teve um abalo mas eu consegui acessar a apoios, apoios financeiros, apoios de… emergenciais, não é? Para artistas, para apoiar os artistas e para várias classes assim da sociedade, eu consegui acessar! Alguns amigos não tiveram tanta facilidade, eu não achei tão difícil! Imaginei que não conseguisse, mas consegui e também continuei dando aula!
Francesco: Online?
Alexandre Pinheiro: Passei a dar aulas online, que eu trabalhava no momento como professor de AEC nas escolas de ensino básico, professor de atividades lúdico musicais e continuei a trabalhar nisso. Musicalmente, produzi coisas com amigos, aquelas lives que tiveram, toquei em lives, lives remuneradas, lives não remuneradas, produções de amigos, assim… participar de composições que foram feitas na pandemia, neste processo de confinamento, então participei de várias produções. Consegui ter uma vida, assim… de 100% de atividade musical antes da pandemia, eu acho que consegui ficar entre 40 e 50% com a atividade ainda… a parte profissional, assim…
Francesco: …fantástico! Então conseguiste mais ou menos manter uma atividade profissional, ter apoios?
Alexandre Pinheiro: Sim! Consegui ter apoios… os apoios foram o que deram a base…
Francesco: …que apoio foi em particular?
Alexandre Pinheiro: Então, o apoio que foi oferecido pela administração pública de Portugal mesmo…
Francesco: da Segurança Social?
Alexandre Pinheiro: É! Através da Segurança Social e também se tivesse emitido recibos verdes, inclusive tinha de passar alguns recibos verdes, três assim… que eu achei que não iria conseguir, eu consegui estes apoios que duraram uns três meses!
Francesco: Ficaste satisfeito com estes apoios, ajudou bastante?
Alexandre Pinheiro: Ajudou bastante, assim! Mas… era muito duvidoso se tu irias receber no outro mês, assim… eu recebi em dois meses seguintes, não é? Depois teve um intervalo de um mês e recebi no outro mês… isso foi meio complicado!
Francesco: Ajudou bastante?
Alexandre Pinheiro: Ajudou bastante!
Francesco: Em termos de performance neste período multiplicaram-se estas plataformas de performance online, streaming… o que é que sentiste como músico nestas circunstâncias performativas? Como é que vives a questão do live streaming, que me parece um novo formato de…
Alexandre Pinheiro: ..foi curioso porque o público, não é? Assim, principalmente a arte musical, ela é uma coisa que ela é muito de próximo… de proximidade ao público! Não que só seja assim, mas… essa coisa desta vida mais de músico que trabalha em vários trabalhos, assim que está fazendo gigs e trabalhas aqui e tudo mais no seus próprios trabalhos, foi interessante saber que o público todo está em casa, entendeu? E as lives tinham audiência, assim algumas tinham: eu observava lives de outros amigos e tinham audiência porque o público estava em casa, então… foi um negócio bem novo que… foi novo e foi curioso, tempos modernos, não é?
Francesco: Tempos modernos… de adequar-se aos tempos modernos!
Alexandre Pinheiro: Isso! Exatamente!
Francesco: E nos concertos ao vivo, mesmo em salas de espetáculos etecetera, qual foi por exemplo o efeito de ver o público todo tapado, isolado e digamos com distanciamento social, as mascaras e de repente foi um pouco estranho?
Alexandre Pinheiro: É!na realidade, quando tu percebes que este assunto pandemia e processos pandémicos no mundo, eles são… lembro disso! A gente tem isso no início do século com a gripe espanhola, a última que teve! Houveram outras pandemias que ficaram isoladas, mas essa que o mundo inteiro sentiu que foi bem, não é curioso… porque infelizmente aconteceu! Mas é assim, o processo tornou tão natural assim… do cuidado com o próximo e do distanciamento e cuidados consigo mesmo, que tu em alguns momentos já começas a achar aquilo natural! Hoje em dia tu não vês as pessoas tão protegidas como antes, tu já ficas assim meio… pó! Mas aquela naturalidade, não é? Que a gente conseguiu manter com o tempo agora…
Francesco: ..de adaptação à nova realidade?
Alexandre Pinheiro: É! Então assim… hoje, essa realidade que era uma realidade entre aspas que nós vivemos, sem o uso das mascaras alguns sem o distanciamento social… que agora começa a se abrir por causa da vacinação, ainda é estranho, assim… porque a gente ficou praticamente dois anos vivendo desta forma então, o teatro com pessoas de máscara foi normal, porque se não nem tinha o teatro. E aí, eu não sei! Tipo… fiquei assim porque já estava dentro do ambiente…
Francesco: … e… quer dizer, agora estamos numa altura em que a maior parte do povo está vacinado e estamos numa altura em que vamos para um novo inverno e há novas perspetivas eventualmente de lockdowns e coisas assim: como é que vives isto? É uma espécie de insegurança e um momento um pouco assim e não sabemos muito bem o que vai ser…
Alexandre Pinheiro: …é! Isto sempre pesa muito para o artista financeiramente, não é? A questão dos apoios, teve toda a burocracia no momento, então… se tiver o… este confinamento, neste momento de inverno… que em alguns lugares assim, aqui no continente europeu o inverno é bem mais rigoroso, aqui em Portugal o inverno ele é saudável para várias práticas ainda assim, tranquilas… e a música é uma! Assim, se infelizmente tiver que acontecer e for melhor para a saúde de todos, vai ter que ser! Claro que para o músico é um pouco mais penoso, porque acabam faltando coisas básicas assim… então se não tiver um outro… uma outra alicerce, uma outra coisa… vão faltar coisas básicas e ai tem uma questão de saúde mental, também… não é?
Francesco: Exato! E então, durante os lockdowns te mantiveste sempre produtivo ou houve momentos de pequenos down?
Alexandre Pinheiro: Acho assim que não! Acho que nem tanto, porque… era o mundo todo que estava parado, então tu não te sentias… não é aquele sentimento de que… de que quando tudo estava acontecendo, de repente tu como artista… percebes que tu estás um pouco isolado assim, fazer trabalhos e tudo mais! Aí tu tens um sentimento um pouco mais forte, tu percebes que está todo o mundo na mesma situação, este sentimento de não estar fazendo… trabalhando, ele é compartilhado, não é? Então tu tem um pouco… não é um alento, tu não te sentes como a única pessoa que está passando por aquilo, tem várias situações então… essa é bué compartilhada, que aí ele é ameno… fica mais ou menos…
Francesco: …sim, sim! E… última pergunta: tiveste algumas produções durante os lockdowns, se queres aqui aconselhar nos para linkar a esta entrevista, para podermos ouvir alguma coisa…? Algum live streaming, alguma gravação de disco?
Alexandre Pinheiro: Gravei um disco de um amigo de lá de Belém do Pará, chamado Delcley Machado, o nome do disco se titula “Ensolarando” , não é? O sol “ensolarando”… que eu fui participando neste disco e eu gravei de aqui, outros músicos gravaram em outros lugares! Ele conseguiu juntar… acho que uns três músicos gravaram de lugares diferentes… é um bom disco para se escutar e tem outros discos!
Francesco: Podes aconselhar uma ou duas faixas, para…?
Alexandre Pinheiro: A faixa que eu gravei é o “Ensolarando”!
Francesco: Ensolarando? É a que dá o nome ao…
Alexandre Pinheiro: …é! A que dá o título ao disco, eu não sei exatamente o nome das outras mas tem canções também, está bem interessante, ele é um músico de música instrumental!
Francesco: E alguma live streaming?
Alexandre Pinheiro: Aqui em Portugal, fiz trabalhos com Carapaus que é uma banda que eu faço parte, aqui em Lisboa!
Francesco: Bem, estamos em Silves, mas…
Alexandre Pinheiro: É! Desculpa!
Francesco: Não, tranquilo!
Alexandre Pinheiro: Mais outra coisa que eu lembre…
Francesco: …mas Carapaus gravou alguma coisa durante o lockdown, alguma live streaming?
Alexandre Pinheiro: Sim! sim… gravamos! Gravamos! Na realidade eu acho foi mais, aqueles vídeos montados…
Francesco: …ah sim, ok!
Alexandre Pinheiro: Eu não me lembro se fizemos um, não sim… fizemos uma live streaming para a FNAC, para receber o premio FNAC, então a gente participou desta live!
Francesco: E é fácil de encontrar?
Alexandre Pinheiro: É fácil de encontrar, esta live está muito boa inclusive… é FNAC, você coloca FNAC Carapaus e ai vai estar: é uma live de 30 minutos, é bem interessante, o som está muito bom… aconselho!
Francesco: Alexandre muito obrigado por esta entrevista neste lugar lindo!
Alexandre Pinheiro: Estamos em Silves nós…
Francesco: …estamos em outono mas parece ainda…
Alexandre Pinheiro: …então olhe só! Também eu gosto de sol!
Francesco: Muito obrigado!
Alexandre Pinheiro: Obrigado!
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