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16.05.2022

Projeto Ágora: Entrevista com André Xina (17/04/2021)

Radio Olisipo · PROJETO ÁGORA: ANDRÉ XINA

André “Xina” Coelho é um compositor e produtor português. Descendente de cabo-verdianos, viveu seis anos em Macau, onde iniciou a sua formação musical. Enquanto Mestre em Antropologia e Cultura Visual, investigou casos de ruído de bairro recolhidos na cidade de Lisboa. Este projeto acadêmico despertou o interesse de Xina pela ecologia acústica. Em 2010 fez uma pesquisa na África Ocidental, onde recolheu o património sonoro dos diferentes locais por onde passou, entre Dakar (Senegal) e Timbuktu (Mali). Com base nesta pesquisa, criou o projeto Sontato, que apresenta a documentação de diferentes paisagens sonoras. A partir de 2012 Xina viaja para o Brasil, funda os projetos Imidiwan, XAFU, Rickshaw e o coletivo Radio Tamashek, lançando vários álbuns e colaborando principalmente com artistas portugueses, brasileiros e moçambicanos. Em 2018 criou o projeto solo Ha Kwai, que significa “fantasma negro” na língua cantonês, termo pejorativo chinês dado a pessoas de pele escura. Em 2021 chega Nzungu (“branco” em língua mwani) o seu mais recente projeto, produzido durante a pandemia entre Itália e Portugal, com o álbum de estreia “Dark Night of the Soul”.

Em resposta à situação de atual emergência devida à pandemia do COVID-19 e à necessidade de promover iniciativas que possam avaliar e atenuar o impacto no âmbito das artes performativas, investigar os efeitos da crise, com enfoque no sector da música, documentar as estratégias aplicadas pelos artistas nas suas atividades criativas e de performance, o Projeto Ágora convida André Xina, para compreender os efeitos provocados pela crise sanitária, quer no nível individual, quer no âmbito do sector cultural em Portugal.

André Xina: Olá!

Francesco: Olá, André Xina, bem-vindo! Bom dia neste dia bonito de primavera 2021!

André Xina: Bom dia!

Francesco: Bem-vindo aqui nestas conversas do Projeto Ágora!

André Xina: Obrigado!

Francesco: Estou muito feliz de poder conversar um bocadinho contigo!

André Xina: Obrigado!

Francesco: Estou seguro que o teu contributo vai ser útil para a comunidade!

André Xina: Obrigado, obrigado pelo convite, vou me apresentar: sou o André Xina, bom! Sou músico sou produtor, colaboro em alguns projetos e neste preciso momento, derivado se calhar desta conjuntura, estou a dedicar-me mais aos meus projetos pessoais, não é? Acho que este momento deu a oportunidade para ter se calhar um foco mais… em relação a trabalhos que estavam suspensos, por uma questão de tempo, por uma questão de prioridade e agora estou a dedicar mais aos trabalhos que realmente estão mais conectados com a vivência que eu estou a ter agora, um pouco isso, sim!

Francesco: Perfeito! Eu já vivi contigo pessoalmente algumas etapas deste ano bestial, desde Março 2020 até hoje, depois nós separamos, depois do primeiro confinamento estivemos juntos em Nápoles, não é?

André Xina: Exato!

Francesco: Eu gostava de saber, no arco de um ano, assim… como é que esta pandemia acabou por afetar, digamos assim… a nível financeiro a tua vida de músico?

André Xina: Bom! Eu acho que no meu caso se calhar teve um impacto maior, digo assim… no meu caso foi maior porque acaba que eu dependo muito da minha… dos projetos que eu estou… que eu próprio colaboro ou que eu crio, ou seja, eu não tenho uma capacidade… vá! Técnica, ou se calhar eu não me permito na realidade, é mais isso! Não me permito a ser tão colaborador de projetos alheios, porque não me considero instrumentista, por exemplo, não é? Eu sou mais produtor e nos últimos anos dediquei-me muito a produzir os meus próprios trabalhos. Então naturalmente não me consegui desdobrar neste ano em projetos ou iniciativas de outros colegas, não é? De outros músicos, mas eu acho que mais por uma questão na realidade de necessidade emocional de estar sozinho! De estar sozinho e na realidade de refletir e de repensar o que é que para mim é isto! O que é que para mim é música, o que é que para mim é arte, o que é que… quais são os meus desejos, as minhas necessidades e espectativas em relação a esta forma de expressão digamos espiritual, não é? E então eu acho que aproveitei um pouco a minha facilidade por exemplo de ter… de ficar numa casa de família no sul de Portugal e de poder ter menos preocupação ao nível financeiro, fiz também trabalhos, por exemplo, fiz trabalhos agrícolas no último ano que deram um encaixe financeiro em que eu também não tivesse que ter então esta necessidade de fazer trabalhos artísticos, que provavelmente eu não estaria com a sensação de os concretizar. Então, este ano para mim, eu considero que foi um ano muito produtivo, porque eu me dei a conhecer outras formas de criar. Eu acho que era um pouco essa a minha curiosidade, de estudar mais, de pesquisar mais, de sair da minha zona de conforto ao nível criativo. Eu estava já a sentir as minhas formulas um pouco já… bom! Já reconhecíveis para mim mesmo, então de ter a vontade de criar novos desafios e isso logicamente se desdobrou em novas escutas, em novos trabalhos, especialmente na área da música experimental, que era uma área que eu nunca tinha tido qualquer tipo de interesse, ou se calhar tinha um certo preconceito… e pronto! E agora eu me dei a… numa forma muito natural, a conhecer artistas que me deram uma nova consciência ao nível do que é que é criar, de estar mais desprendido também neste estágio, não é? E isso foi muito bom porque eu acho que se relaciona com o momento do agora, não é? Com a forma como eu acho que se calhar nós, na comunidade artística, temos que estar um pouco mais desprendidos dos naturais… ou dos constrangimentos que agora estão a dominar todos os sectores, não é? Na sociedade, mas também ao nível da expressão, não é? Ou seja, nós… de certa forma, a nossa liberdade de expressão está condicionada e eu acho que a arte que consegue de uma certa forma visionária, nos dizer que caminho é que também a gente pode prosseguir e um caminho… ele que seja um caminho justo, não é? Um caminho harmonioso desprendido de ansiedades ou de preocupações sobre, ao nível económico, não é? Ao nível de aspetos que nos põem reféns, põem a nossa natureza refém, não é? Então eu acho que este ano teve este aspeto económico muito fragilizado, mas num plano mais digamos etéreo, num plano mais criativo foi um momento de descoberta, pronto! É isso, então para mim foi um ano muito positivo! Considero!

Francesco: Interessante! A nível portanto de criatividade, estiveste a criar novas…  a procurar novas linguagens, novas formas de compor, de criar durante este tempo… e tiveste a oportunidade de tocar ao vivo ao longo do ano? Todas as datas que tinhas, foram canceladas?

André Xina: Não! As datas que eu tinha, a partida foram canceladas e ao mesmo tempo eu não projetei novas datas, eu não… eu na realidade, é engraçado, eu na realidade este ano… no início da… depois de termos voltado de Itália, eu criei uma certa aversão em tocar ao vivo, porque estava a por em causa muitas coisas: uma é a nova forma de tocar ao vivo, era algo que para mim estava… eu tinha assistido ao vosso concerto, não é?  Do projeto que tu participas, dos Ayom, eu tinha visto o vosso concerto que é um concerto com uma temperatura elevada e eu senti que estava tão arrefecido, não é de uma forma muito consciente, por questões de Covid e distanciamento e tudo mais, que isto me gerou aversão, no sentido assim… não era algo que… não é uma experiência justa entre o artista e o expectador! É uma coisa que está… em que ninguém ganha, não é? É claro que… como é que eu hei de dizer, é uma… há uma consolação ali, claro, não é? Todos nós estamos a ser consolados! O artista porque sente então que está a prestar o seu serviço, que é aquilo que sente que nasceu para fazer, para servir, não é? Para servir ao nível artístico, está também a ter o seu retorno financeiro, justo! Mas… também o expectador se sente consolado com uma sensação… vá! Com a transmissão, mas perde-se… há alguma coisa que se perde neste… entre estes dois lugares, alguma coisa se está a perder e se nós começarmos a normalizar isso, não sei! Eu acho que… eu não fico tão preocupado porque a arte sempre foi um veículo de resistência e é como água, não é? Que se infiltra no lugar e encontra o seu caminho, então eu não fico muito preocupado com o que vem ai, ao nível de resistência, mas agora acho que vamos passar por um período de normalização que não faz justiça em relação ao poder que a arte tem de nos afetar enquanto seres humanos, enquanto sociedade, não é? Enquanto forma de gerar uma consciência… vá! Positiva em relação a isto! Porque eu acho que nós os artistas, se calhar somos pessoas mal vistas na sociedade, mal vistas no sentido assim… vistos sempre como uns outsiders, ou como alguém que não é produtivo dentro desta lógica de mercado, não é? Desta lógica, do que é que é uma sociedade em crescimento, não é? Mas no fundo sempre fomos e sempre seremos na realidade os visionários em relação ao que é uma sociedade justa, o que é uma sociedade que… em que nós conseguimos viver em harmonia, conseguimos viver com toda a diversidade de pensamentos, conseguimos então viver em paz! Eu acho que a arte tem este poder de gerar contextos pacíficos e pode ser que dentro de pouco tempo, se calhar a nossa geração ainda não vai apreciar isto , mas dentro de pouco tempo a arte será assim o leme da consciência de evolução ao nível da sociedade e tudo mais, ou seja vai ser um lugar em que os políticos, em que todas aquelas pessoas que estão a comandar, não é? O mundo, verá que é a partir da arte que a gente consegue então descobrir novos mundos, eu acho que é um pouco isto! Mas ainda estamos num lugar em que nós incluem como… mais como entretainers, não é? Como pessoas que estão a olear esta maquina do entretenimento, do que propriamente apreciarmos a arte como uma forma de gerar mais profundidade ao nível de consciência humana, não é? Acho que é um pouco isso!

Francesco: Dito isto e estou perfeitamente de acordo contigo, perde-se algo na

performance ao vivo e não sabemos quando voltará eventualmente a ser o que era, mas desenvolvem-se novas formas, novos formatos de performance entre os quais o live streaming que teve um boom logo em Março e Abril, todo o mundo fazendo vídeos com telemóveis, apresentações de repertórios, músicas, performances. Vejo e reparo que cada um tem uma ideia diferenciada em relação a estes novos formatos, mas eu penso: qual então neste campo a estratégia dos músicos para sobreviverem pelo menos durante este período e manter… ou digamos assim… ativar o seu papel social de músico… transmitir, comunicar?

André Xina: Sim! Claro que não se pode subestimar ou contestar as ferramentas que agora são possíveis de transmissão. Elas tem que ser ativadas e há pessoas que se calhar tem mais evolução ou mais destreza para lidar com as tecnologias e depois temos muitos artistas, artistas que se calhar tem mais, como é que eu hei de dizer… se calhar o discurso destes artistas é já um discurso muito importante de ser apreciado e se calhar não tem tanta capacidade de lidarem com um ambiente que é um ambiente novo para todos nós, não é? Nós claro que vivemos numa sociedade moderna e vamos sempre acompanhando a evolução especialmente tecnológica e relacionada com a comunicação, não é? Mas há pessoas que realmente não têm isso, ou por uma questão de aversão, por não sentirem-se confortáveis com isso, ou porque simplesmente não… é algo que

lhes transcende… mas eu acho que sim! Acho que não há agora uma alternativa em relação a isso, então cada um tem que fazer o possível para se adequar e para conseguir sobreviver. Eu, no meu caso por exemplo, eu não fico tão… eu não fico muito com essa vontade de mergulhar neste lugar, bom! Para já porque acho que estou numa fase criativa em que se calhar a vontade que eu quero ter ao nível de partilha pressupõe outro tipo de projeção sonora, que faz com que se calhar o fator presença é muito importante e os média neste aspeto, eles serão sempre um cartão de visita ao nível de experiência musical, porque por uma questão prática… a projeção, ela retrai muito o campo, o espectro sonoro! Por exemplo no teu caso, tu és contrabaixista… eu acho que os gadgets e tudo mais, eles são realmente injustos para os baixistas e para formas sonoras que necessitam de ter então uma projeção mais ampla, não é? Ao nível sonoro! Eu por exemplo, epá! Eu vou este verão se possível fazer novamente trabalhos agrícolas, de forma em que eu consiga fazer aquilo que eu acho que se calhar agora é importante para todos nós artistas, que é aproveitar este momento de suspensão para gerarem profundidade criativa de… gerarem espaços em que possam ter respostas emocionais em relação a este momento, das suas vidas e não necessariamente o que se está a passar no mundo, mas o que se está a passar no seu mundo, não é? E da gente ter então um momento em que possamos então falar aquilo que a gente precisa realmente de falar, totalmente desconectado com coisas que nós possam prender a nossa respiração criativa, digamos assim! Eu acho que este é o momento precioso para isso, como na altura do renascimento, não é? Em que era a altura mesmo da idade das trevas e saíram obras magníficas e eu acho que de certa forma prever então esta opressão e haver inevitavelmente uma condução desta energia, não é? Que depois ela pode ser traduzida em arte ou em outra coisa qualquer. As pessoas precisam neste momento, sejam considerados artistas ou não, as pessoas precisam de se expressar, as pessoas precisam de criar, tal como Agostinho da Silva dizia, não é? O homem nasceu para criar! E é isso que eu acho que agora é importante nós termo consciência! Todos nós humanos! A gente precisa de criar e de dar espaço para isto! Há um lado material que ele precisa de ser energizado, precisamos de comer, precisamos de sobreviver, cada um de nós tem de arranjar as suas formas de sobrevivência, mas aquela que eu acho importantíssima enquanto responsabilidade nossa neste mundo, é de criarmos qualquer coisa que seja: seja um poema, seja o que quer que seja, isso é que é o mais importante para que a gente consiga novamente, como disse antes, a gente consiga realmente projetar um mundo que a gente está a idealizar e não ficar uma coisa reprimida no nosso consciente coletivo, não é? Mas seja uma coisa que a gente realmente consiga partilhá-lo e de repente encontrar pessoas que estão também a pensar da mesma forma de que nós! Nem que seja pelo exercício de a gente não achar que estamos a pensar sozinhos, mas a gente ter a sensação que estamos sim a pensar na mesma coisa e começarmos então a criar, vá! Micro pátrias de consciência e depois vermos o que é que isto eventualmente vai se materializar! Eu acho que a nossa geração, será uma geração de… martirizada neste aspecto, mas a gente tem de pensar nos nossos filhos, temos de pensar nos nossos netos, não é? De certa forma temos que pensar no futuro que… pode ser que numa próxima vida, para quem acredita nisso, pode ser que a gente ainda depois tire proveito disso, deste investimento, acho que é isso, assim!

Francesco: E em termos de criação, seguramente desde 2020 e eu sei que criaste várias coisas, entre os quais um disco que saiu e eu gostava de alegar a esta entrevista alguma das tuas músicas para quem vai depois ouvir, poderá ouvir exatamente uma das criações deste último período, depois podes aconselhar nós pelo menos duas musiquinhas e comentá-las!

André Xina: Ok! Eu este ano, eu criei um projeto novo que é o Nzungu, que na língua Kimwuani, que é uma língua falada a Norte de Moçambique, em Cabo Delgado, que até inclusive recentemente está numa situação… não! Já está numa situação assim há muitos anos, mas agora ganhou uma certa visibilidade porque morreram brancos… de certa forma é um pouco isso! Mas é “branco”, “Nzungu” quer dizer “branco” na língua de Kimwuani e é um projeto que se complementa com Hakwai, que significa preto na língua cantonense e que são os dois projetos que para mim se completam entre si e no qual eu me sinto pleno, não é? Hakwai se calhar é uma coisa mais eletrónica, mais clubbing, digamos assim, que é um lado meu de vontade de remisturar e de ter… de fazer música mais estilizada e Nzungu é mais experimental, mais totalmente desprendido, são então isso que eu disse antes, são impulsos de… emocionais em que eu depois de certa forma, deixo que eles sejam como tem que ser, as músicas são muito cruas e eu sinto que elas são assim, que elas não precisam de uma certa maquilhagem, que acho que de certa forma tenho aptidão para fazer isso, não é? É uma coisa que eu gosto imenso de fazer, é de ser muito detalhista em relação a uma parte de edição, na parte de mixagem e tudo mais e com este projeto é o oposto, é uma coisa em que eu deixo que seja mais cru, não é? E é por isto eu sinto que é mais verdadeiro!

Então, lancei agora um trabalho que na realidade foi gravado em Itália! O que… que era na altura da pandemia, eu gravei muito piano lá na casa do Antonino, o piano vertical que ele tinha, pelo menos gostava de ir lá e de tocar e eu… coincidentemente ou de uma forma distraída, digamos… eu punha a gravar com o meu telemóvel, rascunhos sem nenhuma pretensão e depois a dada altura percebi que teria algum trabalho com uma certa narrativa e então depois gravei com os microfones que a gente tinha na altura disponíveis. Eu gravei antes de irmos embora, no dia anterior, antes de apanharmos o avião de volta para Portugal, eu gravei algumas ideias e depois quando cheguei a Portugal… e pensava eu que ia fazer uma coisa novamente assim, eletrónica, masterizado… até se calhar ia ser um trip hop com piano e não sei o que… nanana…! Na realidade comecei a brincar com os pedais que eu tinha e comecei a ter outra relação com aquela matéria e a perceber que se calhar aquilo era um discurso muito mais sincero, do que eu fazer uma coisa num lugar comum, bom! Uma coisa que eu se calhar já sabia o resultado antes de o acionar… já sabia para onde é que este processo iria se diluir. Então eu me propus a algo que na realidade era… ia ser algo imprevisível, porque estar a fazer processamento de sinal, através de pedaleiras e de resampling e de saturação de sinal, não é? E de sobre posicionamento, gera de repente situações… lugares inusitados, lugares que a gente nem sabe por onde é que aquilo vai nós levar… e eu gostei muito desta

sensação de conduta muito natural, também perceber aonde é que está o recado… vá! Do próprio processo tecnológico, não é? Onde é que também a tecnologia me leva e não achar-me mestre, como é que eu hei de dizer, ou dominador do processo, mas deixar que as diferentes forças implícitas, discursassem! Ou seja que fosse o próprio mecanismo tecnológico, fossem as próprias pedaleiras, fosse até a própria matéria… perceber o que é que estava para além disso, não é? Ou seja… propus-me ali como… mais como… às vezes como uma mosca na parede, às vezes como alguém que simplesmente conduz mas que não interfere, simplesmente intervém, não é? Fazer um pouco uns exercícios que me levaram para lugares muito interessantes, levaram-me inclusive a de repente conhecer artistas que eu jamais iria imaginar que queria ouvir e tudo por uma questão de coincidência entre aspas, não é? Por uma questão inevitável, se calhar de contacto! E isso foi para mim muito bom, mesmo a nível de pesquisar, ao nível técnico, ao nível físico do som, não é de… ao nível poético do som e isto para mim foi tudo muito bom, porque fui tudo sem estratégia e sem eu querer premeditar e simplesmente por estar numa situação solitária e de necessidade de crescer, de continuar a crescer dentro de aquilo que é a minha vocação, não é? Mas isto foi muito bom, eu sinto-me contente por isto. E agora, vou lançar o novo trabalho em que tu vais participar e é um trabalho… este projeto Nzungu, é para mim um projeto que neste momento precisa de ser energizado por uma questão de afirmação em relação àquilo que é o momento atual para todos nós, mas especialmente para aquilo que é o meu momento pessoal. Então é um projeto que vou desdobrar depois a nível performáticos e perceber como é que… que diálogo é que também vai surgir de ai, porque ele vive muito da improvisação, da espontaneidade, então eu sei que este lado performático ele depois tem outros ingredientes implícitos, não é? E então eu estou curioso para perceber este novo passo, percebendo também os constrangimentos em relação a isso, em relação à performance mas… é uma coisa que eu não estou assim tão preocupado agora…

Francesco: e duas música, dois títulos…?

André Xina: Dois títulos? Se calhar… eu diria… o “Frémitos I” e o “Frémitos II”, serão esses dois! Apesar de que eles não refletem o trabalho por inteiro, porque é um trabalho que tem uma narrativa muito própria, com seus altos e baixos a nível de intensidade, a nível emocional, mas estes dois trabalhos são… eu considero-os o coração do disco, eles estão no meio, há de ser a faixa… se não me engano a 4 e a 5, não sei! Penso que sim, que é a 4 e a 5! Eles são o coração do trabalho e eles acho que refletem aquilo que realmente que o trabalho refletisse… estas duas! É um discurso denso e ao mesmo tempo, com uma certa carga de ansiedade, que refletem muito o que foi… o que se passou na Itália e o que se passou posteriormente na fase mais de edição também, acho que estas duas músicas realmente são para mim, são o disco! É isso!

Francesco: Muito obrigado Xina, vou te fazer a última pergunta que relaciona-se mais ao terreno, ou seja à questão outra vez financeira… queria só saber rapidamente se tiveste algum apoio do governo, se tens algumas espectativas da política em relação ao sector artístico e podemos…

André Xina: …ok! Em relação ao apoio do governo, com o Projeto Xafu a gente teve um apoio da ajuda emergencial, que na realidade depois a gente traduziu este apoio para um outro projeto que de repente nasceu e foi um projeto que de repente nasceu e foi um projeto que… bom! Felizmente apareceu, nem que fosse para a gente conseguir materializar “Altre”, não é? Este projeto que eu acho que é um projeto muito verdadeiro e que será muito interessante então concretizá-lo! Doutros apoios eu estou a tentar concorrer, não é? Para a GDA ou pelo menos para aqueles que são acessíveis, estou mais interessado na realidade em residências internacionais e é este o meu… mais o meu foco, vai ser mais neste aspecto e no mais… quero na realidade também arranjar outros tipos de trabalho, não necessariamente conectados com a música para que eu tenha todo o a vontade e todo o relax em criar da forma mais tranquila e genuína possível! E então é isto! Basicamente é esse o meu momento, não estou tão preocupado em relação aos apoios, apesar de que eu acho que eles têm que existir e muito mais, eu acho que as percentagens dadas para a cultura e para… o investimento feito por parte do governo, ele se calhar é curto e ele se calhar pode ser feito de outras formas, com iniciativas… com as entidades privadas, podem ser feitos outros tipos de editais e outros tipos de incentivos que podem se calhar gerar oportunidades que de momento, ainda estamos se calhar ainda sem perceber como gerar mecanismos de circulação financeira e de investimento cultural, ainda… e se calhar que esta crise pode então gerar pontos de reflexão, como… por exemplo: tu já tiveste um debate com o líder de um partido, pronto! São coisas que agora estão surgir numa forma  de oportunidade, de necessidade e então eu estou crente que vamos ter novas formas de investimento cultural!

Francesco: Muito obrigado Xina, o teu contributo é fantástico, ótimo, vai ser de ajuda seja a mim e está sendo agora que… a outras pessoas, eu espero! Pelas perspetivas que nos apresentaste, portanto agradeço mais uma vez, grande Xina, obrigado!

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