03.06.2022
Diogo Picão é músico, compositor e letrista. Nasceu em 1988 na Lourinhã, começou a estudar saxofone na Escola de Jazz de Torres Vedras em 2003 e licenciou-se em Música na ESMAE- Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo, Porto, em 2009. Terminou a Pós-Graduação Artes da Escrita na FCSH, Universidade Nova de Lisboa, em 2018. Lançou em Fevereiro de 2018 o seu álbum de estreia, “Cidade Saloia”. O disco conta com a participação de vários convidados que encontrou em Lisboa, entre os quais destaca-se Salvador Sobral, com o qual colabora em vários projetos. Colabora também com Olmo Marín, no projeto chamado Sambacalao. Atualmente trabalha no seu segundo disco e integra outros projetos como a Orquestra Latinidade e a Banda B.leza.
Em resposta à situação de atual emergência devida à pandemia do COVID-19 e à necessidade de promover iniciativas que possam avaliar e atenuar o impacto no âmbito das artes performativas, investigar os efeitos da crise, com enfoque no sector da música, documentar as estratégias aplicadas pelos artistas nas suas atividades criativas e de performance, o Projeto Ágora convida Diogo, para compreender os efeitos provocados pela crise sanitária, quer no nível individual que no âmbito do sector cultural em Portugal.
Francesco: Olá caro Diogo Picão, bem-vindo aqui a estas conversas do Projeto Ágora, muito contente de poder falar contigo… apresentação rápida?
Diogo Picão: Obrigado eu pelo convite! Sou o Diogo Picão, músico, compositor, cantautor da Lourinhã e residente em Lisboa! Basicamente acho que é isso, acho que é o mais importante!
Francesco: Então eu queria começar a nossa conversa com esta pergunta, de que maneira a pandemia desde o princípio das restrições, etc. e já vamos completar um ano, desde o princípio de tudo, afetou a tua situação financeira?
Diogo Picão: Bom! Totalmente, porque deixou quase de haver concertos ao vivo, excepto na altura em que abriu depois na altura da primeira vaga, mas, sim! No fundo foi uma quebra, não sei de… 80/70%, 80%… houve ali uma fase do ano em que consegui reestabelecer um bocado, há alguma coisa da net que se fez no primeiro confinamento conseguiram render alguma coisa, outras nem tanto, depois houve alguns apoios do Estado que também ajudaram a… da Segurança Social e do Ministério da Cultura, também um apoio da GDA com a Santa Casa da Misericórdia, que ajudaram a reestabelecer um bocado a coisa, mas sim foi um buraco muito grande!
Francesco: Sim! Porque por exemplo: tu nos anos anteriores, costumavas fazer quantos concertos por ano? Por exemplo em 2019, em 2018?
Diogo Picão: 2019 foi bastante… foi o meu melhor ano desde que sai da universidade há 11 anos, em que só fiz música e foram por ai uns 70 concertos…
Francesco: …e em 2020?
Diogo Picão: Não sei… 15? 20 no máximo… a contar com
Francesco: …os da net, online?
Diogo Picão: Mas sim! Mas foi uma quebra, eu diria uns 15/20… por acaso ainda não os fui contar mas foi assim… uma… foi chegar a um ponto… estava a achar que agora já estava, senti que já estava a coisa a rolar e isso, sempre há uma quebra muito grande, mesmo antes do Covid, de… primavera/verão e outono/inverno em que há muitos menos concertos…
Francesco: sim! Que é fisiológico!
Diogo Picão: Mas a partir do momento em que já está… pelo menos foi o que eu senti agora, que já estou na cidade há mais anos, a roda já andava um bocado sozinha, aqueles que eu arranjava e aqueles que vinham ter comigo, aqueles concertos que vinham ter comigo… porque já estás no meio… e isto, de repente a quebra foi abrupta!
Francesco: E esta quebra te levou alguma vez a pensar de mudar de trabalho? Encontrar outro trabalho, complementar com outra coisa?
Diogo Picão: Sim! Complementar? sim! Comecei a fazer na altura um… foi por aí em Setembro, um curso de programação digital, de web development, mas veio o primeiro concerto grande a seguir e rapidamente perdi a motivação… mas, sim! Não é uma coisa de agora que eu penso que… sempre foi um caminho instável em termos económicos… é uma coisa que eu já sabia desde que eu fui estudar para música, que eu assumi isso! Mas… e já em outras alturas, tive outros trabalhos ou a dar aulas de música no início e depois tive alguns trabalhos: trabalhei num hostel e pensei nisso, arranjar alguma coisa a longo prazo que desse para trabalhar nas duas, na música e neste caso na programação, porque pareceu-me que era um coisa que há bastante procura e que dá para trabalhar á distancia, mas pronto… a partir de… quando há concertos? O meu foco vira diretamente para tocar…
Francesco: …pronto! Mas é um pensamento que já vinha desde antes?
Diogo Picão: Sim! Só se tornou mais forte, porque a quebra também foi muito mais forte… mas, pronto!
Francesco: Eu gostava de saber se a partir do momento em que tivemos estas restrições e confinamento, lockdowns etc. De que maneira estas situações podem ter afetado o teu trabalho criativo, por exemplo tu compões, fazes música…
Diogo Picão: epá! Vou te ser sincero: logo no início, no primeiro confinamento em Março, eu acho que eu estava mais organizado… quer dizer… acho que houve ali partes mais criativas em que escrevi mais, até texto, uma ou outra crónica, compus duas canções, na altura acho que… mas depois o tempo vai passando e entras um bocado num marasma de estar muito tempo em casa e falta-te o estímulo exterior, não é? Porque acho que compões, eu pelo menos componho em relação ao que me acontece na vida e se estou sempre em casa, pronto aquilo… depois rapidamente esgotou e de repente…
Francesco: …a chama?
Diogo Picão: Sim! Dás por ti e já não… vais compor sobre o que? Quer dizer: depende das pessoas, a mim pelo menos, no início ainda senti isso de tentar me organizar um bocado mais para isso e depois compus ali uma coisa ou outra e escrevi um bocado mais, mas essa chama depois foi se um bocado embora. Agora neste confinamento é que estou a aproveitar para gravar o meu próximo álbum, pronto! Que é… ou seja as coisas já estão compostas… é um bocado pensar nos arranjos, chamar os músicos e ir gravando, porque não há… ou seja… não há muito mais a fazer, fartei-me também de combater… não há como combater um tsunami e tipo, pronto! Estás a ser levado e é um bocado tentar de te manter (…) da água e…
Francesco: …tomar na positiva e ser produtivo ao máximo…
Diogo Picão: sim! De alguma maneira, sim!
Francesco: É positivo e aproveitaste este último neste sentido…
Diogo Picão: sim!
Francesco: Agora, eu gostava de perceber, por exemplo, em termos de concertos ao vivo que tu fizeste, não aqueles online, são duas dimensões distintas: naqueles em que tocaste ao vivo mesmo, com público, o que é que sentiste em termos de limitações, ou simplesmente… como é que os elementos externos à música, como as restrições, a máscara, etc. podem ter afetado a tua performance?
Diogo Picão: Ok! Bom! A primeira sensação foi de alívio gigantesco, porque de repente estava a tocar para pessoas presencialmente e isso é uma sensação muito positiva… e ao mesmo tempo, percebia-se que havia ali um medo no público ou nas pessoas que estavam a organizar o concerto e isto foi diferente um bocado… demos uns concertos mais pequenos de bar ou de restaurante, que haviam… não sei 10/15/20/30 pessoas e… pelo menos as pessoas estavam ali próximas, mas senti isto: toda a gente de máscara, é uma coisa estranha, é difícil habituares-te a isso… só que como nós, acho que vínhamos de um período tão chato, que deste alguns concertos online, que é mil vezes pior que isso, a sensação foi: epá! Menos mal, pelo menos posso estar ao pé das pessoas a tocar! Mas depois foi estranho, por exemplo num concerto grande, um dos melhores que foi do ano passado, foi sempre no Teatro S. Luíz, organizado pelo B.leza e pelo Music Box em que era uma sala grande e de repente… epá! Chegar e teres metade das cadeiras vazias e pessoas a quererem dançar e… o pessoal que trabalhava lá a dizer, que pronto! Que não podia, aquela coisa de cumprir as regras… e é mesmo um contrassenso e tu sentes que aquilo está a levantar voo e… ah! Nunca consegue arrancar, na mesma foi um alívio… porque vinha dos vários meses em que a única possibilidade de tocar foi online, portanto era um misto, uma dualidade com as duas coisas…
Francesco: …ou seja, de um lado a possibilidade de poder estar lá outra vez e ao mesmo tempo a consciência que isto não podia levantar um voo como…
Diogo Picão: …exatamente, sim! Especialmente quando a música é mais dançável, não é? Neste caso específico, no São Luiz era muita música cabo-verdiana e tal e epá! Umas coladeiras e tal… epá, de repente! As pessoas estão já agarradas à cadeira e eu próprio a tocar, tipo a querer… a querer dançar, então, sim! Mas pronto, sim! Era uma sensação estranha…
Francesco: …e em relação àquelas performances online? Já que hoje em dia este formato vai ser uma das possibilidades futuras de transmissão de…
Diogo Picão: epá! Eu vou te ser sincero, eu não… eu acho que tens uma ferida e pões um penso por cima, mas o penso não é a resolução… a ferida tem que sarar! No fundo o que eu achei destas coisas online, é ok! Que bom! Eu posso estar a tocar e houve uma ou outra que economicamente correu bem, outras que… não digo que foram um fiasco, mas em termos económicos não deram nada de especial, o que também é interessante perceber que se é um novo modelo para se fazer no futuro é interessante perceber, ok! Mas, se não serve para os músicos sequer terem um cachê ao mínimo, então não é um grande modelo económico, pode ser um modelo de divulgação para fazer de vez em quando, mas não é… é como ter… se não fores um artista de renome, teres músicas no spotify é fixe, ou nas redes sociais, é fixe para divulgar o trabalho, mas não é isso que te dá dinheiro, ou seja… cada play é 0,2 cêntimos creio, portanto!? É assim um mínimo, portanto, eu acho que foi… por um lado é… é um misto também, é bom haver esta possibilidade, foi bom ter havido esta possibilidade, foi bom ter havido público e as pessoas terem mexido… mostrou também a importância da arte e dos concertos na vida das pessoas, sendo que somos trabalhadores bastante precários, ao mesmo tempo percebes que há muita… e com fraca organização sindical e fraca organização de classe, ao mesmo tempo as pessoas querem ouvir a música, querem ver os filmes, querem ver teatro, querem este tipo de cultura! Mas eu não acho que seja uma troca, principalmente quando são coisas mais… o primeiro porque… a qualidade sonora é difícil ter, por exemplo, concertos que fizeste pequenos em casa, não tens material técnico suficiente para ter uma qualidade à sério e pronto! E às vezes é mais porque tu sentes que estás a ver os músicos ao vivo… mas em termos técnicos é quase melhor gravar antes e por numa certa hora disponível, porque… e depois é também a questão de teres tanta oferta, ou seja tu não podes estar a combater com a quantidade de shows, de concertos gravados ao vivo durante décadas com qualidade boa, então os mais recentes, não é? E de repente estás a ver o teu live ou o teu concerto no zoom e é tipo… ok! É porque o teu público gostas das canções…
Francesco: …se bem que houve alguns concertos online produzidos já em estúdio, tipo… no teatro, em algumas salas de espetáculo…
Diogo Picão: claro! Aí é mais… sim! Neste caso tendo mais meios técnicos e uma boa ligação à internet é possível fazer isso, agora a partir de casa que era aonde muitos artistas e os artistas independentes, creio que a maior parte estiveram nesta situação… tiveram que trabalhar com a sua net que tinham disponível, com… ou se calhar uma “interfacezinho” que tinham ali, se tivessem… um microfone ou dois e pronto… tentar! E eu acho que as pessoas vão ver e isso é um lado interessante porque as pessoas ligam-se a isso, porque há uma ligação também emocional à música que está a ser feita, ao artista específico que aquelas pessoas gostam… eu próprio, dei por mim como púbico, ver uma ou outra live de artistas que gostava muito, com qualidade de telemóvel e a gostar muito de aquilo e a perceber, ok! Isto é o que é! Não é que a qualidade seja muito boa… mas a partilhar com este momento, até eu acho que foi bom neste sentido! Agora… no futuro eu acho que isto não pode ser visto como: ah! Agora descobrimos aqui uma coisa que vai funcionar!
Francesco: Exato! Então as estratégias para nós pensarmos em novos formatos… isto há de vir ainda, não sabemos bem qual é que será o futuro… mas…
Diogo Picão: …epá! Pois, eu acho que a primeira coisa é resolvermos isto para podermos voltar a tocar ao vivo, que nunca vai ser substituído por mim, por nada! Porque tocar ao vivo, quer dizer: é a troca entre os músicos que estão no mesmo espaço a tocar e a reação do próprio público, não é? E é nesta troca, há um momento ali em que as pessoas estão fisicamente juntas e isto faz muito a diferença, ou seja, no público está a haver e está a ver aquilo a acontecer ao vivo, “live” como se diz na net, mas ao vivo realmente ou aos vivos… mas… ou seja… além disso, de resolver este problema na parte digital, a questão é: os modelos em que isto for feito, tem que ser minimamente rentáveis, pronto! Ou que sejam coisas mais curtas, só de divulgação porque tu queres e pronto e abre-se ai um espaço para aquilo, mas… por exemplo, houve alguns deles organizados em zoom e com alguma organização por trás, na altura até o “My Invisible City” que era uma associação que estava a fazer estes concertos, mais bem organizados e funcionaram ou Inside Number Nine que eram outros amigos que faziam, já faziam antigamente uns concertos em casa e organizaram aquilo e de repente há algo palpável, não é? Que ajuda a pagar a renda e não só, porque as visualizações não pagam a renda, tipo… as palmas e as visualizações podem ser boas ou más para o ego, mas não pagam a renda nem nunca pagaram um jantar, portanto tem que haver esse equilíbrio e acho que no futuro, tem que haver essa noção: até que ponto a gente se pode estar a expor na Internet, ou em concertos e tal… o que não tem nenhum…
Francesco: …retorno?
Diogo Picão: Retorno financeiro! Que é onde… com o qual nós contamos para ter a nossa vida como toda a gente! Não é pedir e também não é dizer nada que as pessoas não queiram… em quase todos os trabalhos não seja uma coisa óbvia… como dizia a Billy Hollyday: “don’t ask me to give the only thing I can sail”… algo assim do género… não me peças para dar a única coisa que eu possa vender que é a minha arte!
Francesco: Exato! Obrigado Diogo, fantástico! Queria saber, para terminar, o que é que… quais as tuas espectativas em relação à política, aos governos: o que é que eles podem fazer para proteger um pouco este sector cultural e também aqueles movimentos reivindicativos que surgiram agora, se tens algo a dizer sobre isso…
Diogo Picão: …bom! Uma das coisas que mais me dá esperança neste momento será se conseguirmos criar o Estatuto do Artista ou dos trabalhadores da cultura que me parece ter a ver com o sistema dos intermitentes em França e que aqui não há… eu acho que isto daria algum fôlego a quem trabalha nas artes e não só, os artistas e os frontman’s, todos os artistas que estão à volta da criação de qualquer peça ou de qualquer obra musical, o que for e todos os técnicos que estão à volta dessa… que quase todos sofrem do mesmo que é: quando há trabalho recebes, quando não há trabalho não recebes, pronto! Acho que essa é a única, a primeira… porque se começa a ouvir a falar disso pela primeira vez, nalguns políticos e nalguns… nos meios… nos média! Porque isto mete aqui uma questão que é: finalmente a sociedade a perceber ou admitir que precisa destas pessoas, utiliza os recursos que estas pessoas criam, gostam do trabalho que elas fazem e então a sociedade como um todo, tem que se organizar para que estas pessoas terem meios básicos de subsistência, a mim parece-me óbvio! E portanto… essa é a minha única esperança deste processo tão duro, pronto! É que realmente seja tão.. que isso fique tão óbvio que é… além de uma coisa importante, um tipo de escolha de vida muito precária e que as pessoas fazem na mesma, porque gostam daquilo que fazem e acreditam na arte que fazem e então decidem dar as suas vidas por isso, porque é uma… às vezes não é quase uma escolha, mas é uma necessidade também… queres exprimir uma coisa e decides dar a tua vida e escolher o teu caminho profissional naquele sentido, pronto! Isto é uma coisa que me dá esperança, que a sociedade como um todo e os políticos forçados por essa noção crescente criem este Estatuto, não sei em que moldes mas, no caso eu acho dos intermitentes em França é… tu descontas por todos os concertos ou peças que fazes e depois quando não tens trabalho há uma média para conseguires subsistir se não houver este tipo de trabalho, o que também eu acho que vai forçar os próprios músicos e os artistas no geral, que muitas vezes vivem ali numa… nós vivemos ali numa zona cinzenta, em que não se passa recibos de tudo, em que não… em que de repente há uma força para se passar tudo e para tudo ser declarado mas que o Estado contribua quando é necessário e que aceite que há realmente uma onda, não é um trabalho estático e pronto! E a criação cultural será melhor quanto mais estrutura tiverem as pessoas, pronto isto é a esperança maior que me dá! A outra questão é, tenho… não sei se é esperança mas tenho alguma… sim alguma esperança que os próprios músicos e neste caso contra mim falo… ganhem um pouco mais… alguma noção de classe, consciência e que se comecem a juntar um pouco mais e que se comecem a criar estruturas agregadoras, sindicatos que funcionem ou que pelo menos tenham uma abrangência grande da classe que já está em trabalho e também dos alunos que estão a ser formados agora e que vão para o mercado de trabalho entretanto e que… pronto! Isso era uma coisa boa em termos, pra nós e pra quem vier a seguir e pronto! E também que isto seja feito pelas sociedades dos direitos, ou seja a SPA Sociedade Portuguesa de Autores, que eu acho que é muito fraca no trabalho de transmitir a informação e o conhecimento, principalmente para as pessoas que se estão a formar agora, acho que esta fraca comunicação com o exterior com os direitos dos autores, no âmbito do… no geral… não para quem já está inscrito mas na sociedade no geral e na própria GDA que na mesma, acho que tem feito um trabalho até bastante bom durante esta pandemia de apoio e de transmitir esta informação, porque não é só existir o apoio, não é só… é dar literacia, é saber ensinar aos artistas, os criadores, ou os executantes, no caso de não serem até compositores no caso da música, mas que dos direitos que existem e para as pessoas poderem registar as coisas e para a recolha ser feita o mais justamente possível e a repartição ser feita mais justamente possível! Porque se não quer dizer… ou seja, não serve só cobrar se depois a repartição não é clara, não é transparente, pronto! Mas eu acho, quanto mais noção de classe houver e mais houver esta união, melhor vai ser para todos! Claro que há aqui uma questão que é: a criação artística e acho que por isto é que é difícil organizarmos por classe, tem um lado muito individual, tem um lado muito… difícil de agregar às vezes e noutros não. Ou seja, por exemplo: nós como músicos tocamos em conjunto, tocamos em banda, por exemplo se me perguntares para eu escrever canções, geralmente eu quero estar sozinho até aquilo estar feito e eu não quero nem sequer a opinião de ninguém e depois quando eu acho que já está mais ou menos o que me parece interessante, depois vou partilhando e até às vezes corrigindo coisas que eu acho pertinentes, consoante as críticas dos outros. Mas há um lado que liga-se à estética, não é? Tens um bocado que deixar cair esse… ou seja, tu podes não gostar esteticamente da obra de um artista e na mesma reconheceres-te em termos de classe com ele. E isso é uma coisa que que eu acho que os artistas tem muita dificuldade, que é: ok! Não gosto daquela obra específica, mas nós estamos todos dentro de uma classe que é um bocado… ok! Uma subclasse, o músico, o ator, o encenador, sei lá? O técnico de som, mas pronto! Não… é começarmos a separar um bocadinho a coisa que eu acho que ainda é difícil de… ou seja, o músico clássico, o músico de jazz, o músico de samba, o músico pimba, o rapper, o que for… pronto! As pessoas que estão a criar música e, isto falando só do âmbito da música, e tem que haver a noção de que estamos todos no mesmo barco! Não é que todos tenhamos de gostar do trabalho de uns e dos outros e ter que dar palmadinhas nas costas, não é nada disso! Acho que até é bom criticarmos e não é que a gente tenha que seguir o trabalho de coisas que não gosta, mas termos esta noção que não temos que gostar do trabalho necessariamente esteticamente que está a ser feito, para percebermos que trabalhamos todos na mesma coisa, no nosso caso que é a música! Portanto… e que levamos música a vários públicos diferentes, pronto! E que tudo isso é valido, porque eu acho que isso nós vai dar muito mais força, em termos de classe e vai evitar com que haja caches tão baixos e haja uma precariedade tão grande!
Francesco: Perfeito! muito obrigado! Diogo, última… ultimíssima pergunta que te queria fazer: tu tens realizado concertos online durante a… durante o período mais crítico, se bem que ainda estamos num período crítico e tens contribuído por exemplo em produções de discos, etc. Tens alguma, uma ou duas músicas que nós possamos linkar a esta entrevista para te ouvir?
Diogo Picão: Sim! Olha: um dos concertos que dei no verão, que foi a convite da Câmara Municipal da Lourinhã, donde eu cresci! Foi uma série de concertos que eles fizeram, chama-se Sons da Minha Terra e foi um concerto todo gravado por uma equipa técnica, vídeo e som e que está disponível no Youtube da Câmara Municipal da Lourinhã e em que eu toco só piano e voz e foi o primeiro concerto que eu fiz assim, só piano e voz, que é como eu escrevo, como componho as canções, pronto… sem banda! Esse é um deles, o outro foi um trabalho de um duo que eu faço parte com o Olmo Marin, chama-se Sambacalao, que foi gravado no Camones, que é um lugar de concertos muito interessante ali na Graça, aqui em Lisboa e que está também no youtube deles e é um concerto inteiro, também gravado com qualidade som e vídeo, creio que aquilo está como “Little Cam Ones” mas se forem ao youtube do Camones, vai lá aparecer “Sambacalao”, pronto! Foram assim os dois mais… que eu acho que ficaram mais interessantes neste sentido!
Francesco: Ok! Perfeito! Obrigado Diogo, muito obrigado pela conversa!
Diogo Picão: Obrigado!
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