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20.05.2022

Projeto Ágora: Entrevista com Miss Suzie

Radio Olisipo · PROJETO ÁGORA: MISS SUZIE

Francesco: Olá boa tarde! Olá Suzie como estás? Tudo bem?

Suzie: Va bene!

Francesco: Bem-vinda aqui a estas sessões de entrevistas e de conversas com os músicos do Projeto Ágora e queria que te apresentasses rapidamente, tu te chamas? Suzie!

Suzie: Sim! Chamo-me Suzie, chamam-me Suzie e… pronto! Tenho vários projetos musicais, o último é o Suzie & the Boys, e tu deves conhecer… e canto também com os Ena Pá 2000, com Os Irmãos Catita, mas paralelamente tenho uma vida de… ligada ao teatro e ao cinema e a estas coisas, como figurinista e diretora de arte!

Francesco: Perfeito, portanto tu és muito importante para estas conversas, visto que estás envolvida em muitos projetos! De que maneira a pandemia afetou a tua situação financeira desde o princípio das restrições?

Suzie: Foi complicado, porque… em duas vertentes diferentes, não é? Uma vertente musical e uma vertente de bastidores, não é? Portanto, logo quando a pandemia começa eu ainda estava a filmar, a trabalhar, continuei… já não havia maneira de parar, mas imediatamente fiquei com todos os trabalhos cancelados e um ano que até se previa que fosse um ano bom, de repente fiquei sem nada, não é? Isto a nível da minha parte de figurinos e direção de arte. Depois na parte da música tive a felicidade ou a infelicidade de fazer um concerto com os Suzie & the Boys uns dias antes da pandemia, foi o último concerto inclusivamente do Sabotage, que depois fechou as portas, já estava anunciado, mas com a pandemia ainda veio a agravar mais e ficamos com todos os concertos todos cancelados, não só… das bandas todas e durante o período da pandemia e fui conseguindo recuperar alguns trabalhos da parte dos bastidores, mas da parte musical perdi quase tudo. Tive a sorte de fazer um concerto com os Ena pá 2000, algures em Outubro e um concerto com os Suzie & the Boys em Setembro. Quer dizer, num ano fazeres… tens três projetos musicais e só fazes dois concertos? É hardcore!

Francesco: Incrível, exato! Ou seja uma redução extrema quase…

Suzie: exatamente!

Francesco: E… vista a situação agora presente, estamos em Março e estamos mais ou menos na mesma situação ou quase de um ano atrás, aliás… acabamos de fazer um ano… hoje? Quando é que foi em Portugal?

Suzie: O confinamento, acho que entrou no dia 18, se não estou em erro… nesta altura já se estava a adivinhar que alguma coisa mais grave viria por aí, mas eu acho que ninguém estava preparado para isso!

Francesco: E portanto, eu queria saber se isto se protrair assim, quais serão os efeitos na tua situação financeira de 2021… iguais?

Suzie: Epá! É assim, eu tenho uma empresa, pronto! Eu trabalho como uma empresa que abrange todas os projetos que faço. Eu no início de tudo isto, eu tive 87% de quebra de faturação, que é uma coisa problemática, mesmo! Pronto! Como eu faço muitas coisas diferentes, não é? Fui conseguindo aqui, ali, ali, ali… conseguindo aguentar o barco, não é? E passado este ano, eu consegui aguentar o barco, mas longe, muito longe do que era a minha vida normalmente, de trabalho com todos estes projetos que se cruzavam, não é? Porque eu muitas vezes estava durante o dia a fazer figurinos e chegava à noite, ia dar concertos, não é? Portanto, isso… esquece, isto nunca mais aconteceu! Não é? Pronto… epá! De alguma forma, sinto-me privilegiada porque consegui ultrapassar, consegui sobreviver, mas foi muito, muito difícil, foi a custa de muitos emplastres nas minhas costas, mas pronto! Foi uma situação que aconteceu e uma pessoa tem que andar para a frente e o que vai acontecendo, tu vais agarrando e tu vais fazendo, não é? Foi isso que aconteceu!

Francesco: Eu queria saber, em relação aos apoios, digamos à assistência financeira do governo, se existem… e se tu recebeste algum, se conseguiste…

Suzie: …eles existir, existem! Têm muitas regras diferentes e por vezes tu podes não ser abrangido por isto ou por aquilo ou wherever, pronto! No meu caso, eu tive… acabei por ter alguma ajuda, mas que no fundo se nós formos ver, é completamente ridículo porque num ano, em doze meses disto, o apoio que eu tive foi: vamos supor, sei lá… portanto… eu tive, acho que foi no total ao longo deste tempo todo, tive por aí do governo 700€ de apoio! Portanto, dividido por 12 meses, no total! Depois da GDA, que é um órgão muito importante e que eu dou os parabéns, porque se mexeram com a Santa Casa e etc., para apoiar os artistas, consegui mais 700€! Portanto, juntando todos estes apoios, num ano eu tive 1500€ de apoio, o que é dinheiro obviamente, mas sabendo que eu todos os meses eu pago ao Estado, por ter uma empresa, todos os meses, todos, todos, em pandemia ou sem pandemia, eu pago cerca de quais 600€, portanto: é só fazer as contas, saber o apoio que eu tive de 1500€, dividido por 12 meses, percebes? Portanto, foi complicado… se não fossem os emplastres nas minhas costas, eu não tinha sobrevivido!

Francesco: Exato! Portanto deduzo que te consideras insatisfeita?

Suzie: …de alguma forma sim! Porque depois há muitos impedimentos e no meu caso, no início quando realmente eu estive muito mal com aqueles 80 e tais % de quebra de faturação, quando tu tens… eu tenho um estudo que tenho que pagar a renda, eu tenho um atelier que eu tenho que pagar a renda, para além de toda a minha vida, não é? Todos nós temos uma vida, uma casa, comida, tudo não é? Pronto! para além disso, eu nesta altura, os apoios que vieram eram completamente idiotas, porque havia imensas restrições e não abrangiam toda a gente, eu como sócio-gerente não tinha direito a apoio! Portanto…. eu não era trabalhadora, não é? Por ser sócio-gerente da minha empresa, não tenho direito a receber… caramba! Sou eu que ponho lá o dinheiro, sou eu que trabalho para lá estar o dinheiro, sou eu que pago ao Estado, mas eu não tenho direito? Pronto! Nesta altura foi muito complicado! Quando já no final do ano, começaram a aparecer, porque no entretanto houve imensas polémicas, não é? Portanto… quando começam a aparecer no final do ano já alguns apoios, que já poderiam abranger ou incluir mais pessoas e com menos restrições, estás a ver? Eu já tinha tido os meus emplastres nas costas, já tinha recuperado, felizmente… mas como já tinha recuperado, já não tenho direito… ainda que a minha recuperação, tivesse sido mínima e nunca… e muito longe de aquilo que eu costumava trabalhar, não é? pronto! Portanto é assim um pau de dois bicos, percebes? 

Francesco: E te ocorreu nesta altura ou digamos assim, ao longo… se te ocorre de pensar às vezes: se esta situação se protrair, de mudar de trabalho, encontrar outra situação… se te ocorreu…

Suzie: não, isso nunca me passou pela cabeça! Aliás isso não me passa pela cabeça há 30 anos, porque… aliás, eu acho que nós, os artistas, pensando bem… se calhar fomos… embora tivéssemos sido… ou estejamos a ser ainda os mais prejudicados com toda esta situação, não é? Não temos sítios para tocar, não podemos tocar, não podemos trabalhar, filmar? Filma-se pouco e bla bla bla…! No entanto, se calhar nós éramos os que melhores estávamos preparados para esta situação, porque nós sempre vivemos assim, nós nunca sabemos o amanha! E isso é que é realmente a essência destas profissões, não é? Tu não sabes, tu não sabes se o telefone liga amanhã e tens um trabalho e portanto é sempre obviamente uma vida precária, mas ao mesmo tempo é uma vida muito apaixonada e só está nesta profissão quem realmente ama muito aquilo que está a fazer! E muitas vezes, ao longo destes 30 anos de profissão, quando eu tinha alturas de menos trabalho e que tu às vezes passavas alguns meses sem ter trabalho, que felizmente agora… se calhar já tenho uns aninhos, já estou velhota, já não é bem assim… tu pensavas: fogo! Eu se calhar tenho que fazer outra coisa, porque eu não me vou safar! Mas eu sempre pensava: não! Fodes ai! Eu não sei fazer outra coisa… não se pode dizer asneiras! Mas pronto! Eu sempre pensei: eu quero fazer isto! Eu não vou desistir… portanto não era agora um bichinho, que ia fazer com que eu fosse desistir! Não, isto nuca me passou pela cabeça! 

Francesco: Perfeito, ok, ótimo! Agora eu queria passar a uma outra parte aqui, da nossa conversa em que penso mais na coisa do… digamos na situação do trabalho criativo, ou seja, de que maneira toda esta situação pandémica afeitou o teu trabalho criativo e de performance, desde o início das restrições?

Suzie: Sim! Ai tem duas partes: afetou o meu trabalho performativo, mas não afetou o meu trabalho criativo, pelo contrário! Porque o que aconteceu, mas isto se calhar tem a ver com a minha pessoa, com a minha personalidade, tenho bichos carpinteiros no rabo, não posso ficar quieta… e então eu tenho que arranjar algo que me preencha! Então se eu não posso fazer agora, eu não posso fazer agora, mas eu vou inventar ou vou fazer depois, portanto: criativamente? Eu criei imenso, eu inventei imenso, não é? E consegui! Inclusivamente fazer coisas para o futuro, esperemos… performativamente é que não! Não posso… não havia espaço para isto, quer dizer, à exceção daqueles dois “concertozinhos”, não foi mais nada!

Francesco: Agora, exato! Então eu queria saber, em 2019, antes de que acontecesse a pandemia, quantos concertos fizeste, por exemplo, em quanto espetáculos participaste, já que tens um duplo trabalho?

Suzie: Antes da pandemia? 

Francesco: 2019, vai…

Suzie: 2019! Eu não sei contabilizar exatamente, mas por exemplo, entre as três bandas, não é? Eu seguramente, sendo que não são bandas… tipo que estão aí nos festivais todos, é um bocado tudo mais underground, mas eu seguramente teria uma media de concertos por mês de 2, 3.. uma media no ano…

Francesco: uns 30/40 concertos por ano, mais todo o trabalho de…

Suzie: sim! Mais todo o trabalho que isso implica, em relação à música…

Francesco: em 2020, foram?

Suzie: Em 2020? Foi no início do ano, portanto, tive ali 2 ou 3 concertos e depois tive 2! Portanto, provavelmente ao todo terei tido, que? 5? 6 concertos?

Francesco: Em todo o ano?

Suzie: Em todo o ano! 

Francesco: E agora, falando mais na questão da estratégia, não é? Estratégia dos músicos para ultrapassar este período, digamos que se carateriza pela falta de perspetivas, tens alguma estratégia? Artística? Criativa?

Suzie: Talvez, voltando um bocadinho atrás, na tua pergunta do processo criativo e performativo, não é? Eu acho que a estratégia musical neste momento, passa precisamente por preparar o futuro e não ficar à espera que as coisas abram e aconteçam, mas sim estar preparado para quando esta altura chegar… já estás!

Francesco: Para ter material?

Suzie: Para ter! Tens conteúdo, tens material, tens coisas para fazer, tens coisas para mostrar, aliás acho que até provavelmente terá que haver uma estratégia, ou pelo menos… eu penso nisso em relação às coisas que estou a fazer… que é: quando isto abrir vai haver imensa coisa, porque toda a gente esteve a incubar, esteve a criar, esteve a fazer, portanto toda a gente está doida, para… assim que isto acabar, toda a gente vai mostrar… exatamente! E portanto também penso eu, será preciso um certo cuidado estrategicamente de… de repente: se toda a gente lança tudo ao mesmo tempo, se toda a gente faz tudo ao mesmo tempo, as coisas caem no vazio, porque não… as pessoas não conseguem assimilar tanta informação ao mesmo tempo! Portanto acho que terá que haver um certo cuidado, perceber o que está a acontecer quando isto tudo abrir, para que as coisas não se atropelem umas às outras e poderem dar espaço a todas, porque se não vai ser o caos!

Francesco: Em relação a este futuro que não sabemos bem como vai ser, por exemplo, o que é que tu achas ou se pensaste em relação a isso… deste novo formato de música ao vivo que se faz em streaming, os live streaming… o que é que poderá haver depois? Se isto ainda protrair-se por muito tempo?

Suzie: Sabes que eu senti uma postura em relação a estas coisas do live streaming e estas coisas… para já eu não sou muito internética, eu sou mais miúda de mexer com as mãozinhas e não nos botões, pronto! Isto é logo à primeira! Mas eu também, ou seja… quando nós tivemos o primeiro confinamento e ficamos mesmo todos… e ninguém sabia, ninguém entendia o que é que se estava a passar, não é? Eu acho que foi maravilhoso, haver toda uma parte generosa artística que fazia lives aqui, lives ali, não é? Nestas ligações todas em streaming: um concerto, uma música, um poema, um… o que fosse! No fundo, eu achei isto como um ato solidário, não é? Bora lá entreter esta gente toda que está toda a gente a tripar e ninguém sabe o que vai acontecer. Neste momento? Eu não sei se não é um tiro no pé! Ou seja, a partir de uma certa altura, esta coisa de fazer os concertos por donativos, os mbway’s, os não sei o que e não sei o que mais… epá! Oh gente! Então? Vocês estão malucos meu? Porque isto não vai acontecer e eu inclusivamente vi… nós fizemos.. eu recusei-me de ir a um concerto dos Ena Pá, precisamente porque era neste esquema e eu disse: epá! Eu não quero fazer isto! Epá! Depois foi os Irmãos Catita fizeram e eu já estava cheia de “saudadinhas” de tocar, eu disse: epá! Que se lixe! Vou lá pela vodka! Pronto! E cheguei a ver comentários de pessoas que estavam a ver o concerto: epá! Que fixe! Um concerto à borla!… Epá! Não é a borla, meu! É o nosso trabalho, não é à borla! Percebes? Portanto esta coisa dos live streamings, esta coisas das plataformas, ok agora até estão a organizar plataformas em que tu tens de pagar um bilhete para entrar e ver, mas não é a mesma coisa! Eu, como músico, eu não vou pagar um bilhete para ver um concerto online, não vou! Não quero! Porque um concerto é muito mais do que isso, um concerto é ali! É aquela energia! Não pode ser através de um ecrã de computador, eu nem vejo os concertos que passam na televisão, quanto mais os do computador, não quero! E não quero contribuir para isto!

Francesco: Exato! Então eu queria saber, por exemplo, quando tocaste e tiveste  estes concertos durante este período, por exemplo o que tivemos… que eu também estava contigo, da Praça da Alegria e os outros que fizeste em streamings, como é que tu achas que estas situações… por exemplo como no caso da Praça da Alegria, restrições, fio a delimitar espaços, impedimento de circular das pessoas, o uso da mascara obrigatória ou por exemplo o teu concerto que fizeste no live streaming, como é que achas que isto pode afetar a nossa própria performance? A performance do músico? 

Suzie: É engraçado estares a perguntar isto, se calhar, pronto! No caso, vamos começar pelo concerto que eu fiz em streaming com Os Irmãos Catita! Eu assumi… fui pela vodka, como já te disse! [risos] Mas eu assumi aquele concerto como se eu estivesse a fazer um programa de televisão… e então eles até andavam a filmar com os telemóveis e eu lembro-me que às tantas virava-me para os telemóveis e ia a dizer: epá! Agora tudo a bater palminhas lá em casa! Com os Catitas dá pra fazer isto, não é? Mas pronto! Portanto, ultrapassei isto desta forma porque também é uma banda um bocadinho sui generis em que também dá para brincar com isto! Dá para gozar com isto! Quando nós fizemos o concerto na Praça da Alegria com os nossos Suzie & the Boys, eu sou a Suzie e tu és um dos boys [risos]… foi engraçado, porque: há aquelas limitações todas, houve uma grande adesão do público se bem te recordas que a praça estava cheia, aliás a própria organização estava um pouco preocupada de repente com o ajuntamento que ali se criou! Estranhamente e não sei se tu sentiste isto, mas eu ao estar a dar o espetáculo naquela primeira zona que era a zona das cadeirinhas, tudo de máscara, tu estás a atuar para anónimos, para anónimos! E uma coisa que é fundamental em qualquer espetáculo, seja ele teatral, seja ele musical, seja ele qual for, é precisamente esta interação que tu tens com o público: o público te dá a ti, tu ainda dás mais, é sempre assim! Pelo menos eu sinto isto! E portanto foi de alguma forma estranho atuar desta forma! Claro que depois, fora daquela “zonazinha” restrita, como a praça encheu e de repente estava toda a gente ávida de dançar, disto… e como a nossa música também puxa para dançar, de repente tu viste a praça toda a dançar e de repente, epá, afinal, não é? Há coisas que não se perderam ainda, ainda bem! E mesmo por trás das mascaras tu até conseguias reconhecer alguma vivacidade… não é? 

Francesco: Ou alguma expressão, ou alguma resposta!

Suzie: Exatamente! Depois fizemos o concerto com os Ena Pá e foi na Casa do Capitão em que já havia, era muitas mesas, as pessoas estavam sentadas, não tinham máscaras se estivessem na sua mesa, o concerto foi incrível! Mas por exemplo, eu lembro-me perfeitamente como “valquíria”, em determinada altura dizer: levantem-se epá! E eles ficaram sentadinhos, não se podiam levantar! Portanto nem te era permitido estares na tua cadeira como eu estou agora, levantares e dançares um bocadinho… nada! Mesmo que não saísses da tua cadeira: não era permitido levantar e dançar, dançar não era permitido! Epá! Isto é completamente escabroso!

Francesco: Incrível! Então em relação ao futuro, quando pensas em novas práticas ou a realidades performativas a que… vão voltar os concertos assim como sempre foram?

Suzie: Epá! Eu penso é que este bicho vai embora rapidamente para voltarmos àquilo que tínhamos…

Francesco: isto é uma boa maneira também de valorizar o que tínhamos, que já era muito bom!

Suzie: Exatamente!

Francesco: Agora, para terminar esta nossa conversa, queria saber se tens alguma espectativa da política, dos políticos para um melhoramento da situação dos artistas, no geral, assim… dos músicos?

Suzie: Eu como costumo dizer, eu não sou muito de politiquices! Conheço alguém que também é um dos nossos boys que diz: epá! Isto é mentira! Tu és uma rapariga cheia de statement e não sei o que… e sou! O que é que eles podem fazer por nós? Quais são as minhas espectativas? Eu não sei se tenho algumas, já não sei o que eles podem fazer por nós, porque realmente eu estou sempre um bocadinho à parte disso, o que eu procuro é sempre lutar para aquilo que eu acredito, estás a ver? Fazer as coisas acontecer! Não ser aquela coisa… ah! Bora fazer isto ou fazer aquilo… e depois não se faz nada! Não! É para fazer? É para fazer… e tentar desbravar caminhos! Portanto, toda a minha vida… estou habituada: queres fazer? Desbrava o teu caminho, porque ninguém vai desbravar para ti! Percebes? Pronto! Portanto nunca fiquei muito à espera dos apoios que os políticos me possam dar ou sem dar ou isto ou aquilo, aliás na própria pandemia acabou por se relevar isto! Se eu ficasse à espera do apoio que eles me dessem, estava morta neste momento! Portanto, epá! O que eu gostava é que eles olhassem mais para nós culturalmente, porque sem duvida que há uma grande lacuna culturalmente na política… epá, mas fora disso acho que não te sei responder a esta pergunta…

Francesco: fantástico! Só para terminar tenho uma outra pergunta: existe algum movimento reivindicativo de artistas que conheceste nesta fase, eu me refiro muitas vezes à União Audiovisual ou a outros grupos que estão fazendo atividades, assim… que vale a pena mencionar ou que..

Suzie: eu curiosamente, eu que não sou nada de politiquices, nesta pandemia aliei-me muito às lutas pela cultura e houve vários movimentos, se não me falha a memória agora, houve um Movimento que era pelo Futuro da Cultura, penso eu… houve um outro, eu inclusive no princípio da pandemia comecei a fazer umas máscaras com sorrisos, as máscaras sorridentes que de repente se tornaram um símbolo também de luta cultural, porque estavam presentes nas manifestações todas culturais e chegamos a fazer um assalto ao Ministério da Cultura, com uma Bonnie e um Clyde com um magro… um saquinho representando o magro subsidio que eles iam dar de 180€ para o Ministério da Cultura e fomos lhe oferecer um “cabazinho” de alimentos e portanto, estive muito ativa nestas guerrilhas e nestas manifestações culturais, na vigília que houve na Assembleia da República porque realmente, culturalmente… ou a nível cultural, o governo tomou uma série de medidas que eram muito incompreensíveis, não é? Eu lembro perfeitamente aquela polémica, quer dizer que uma sala de espetáculos não pode estar aberta e tu podes viajar de avião, com avião cheio, quer dizer? Não…! Houve várias coisas que não fizeram sentido e portanto sempre que foi para marcar uma posição e chegar lá e as pessoas verem que, fogo! Não somos um ou dois, somos muitos! Eu estive lá! Ainda que eu não seja de politiquices!

Francesco: Fantástico! Obrigado Susi! Só para terminar: fizeste algum live streaming, alguma performance durante este período que possamos… ou alguma coisa que produziste, uma gravação, alguma residência artística? Ou algum… sim exato!

Suzie: Sim! Fiz duas coisas diferentes: uma fiz contigo e que foi uma oportunidade maravilhosa que as Oficinas do Convento de Montemor-o-Novo nós proporcionaram! Fizemos uma residência artística onde criamos originais para um futuro, aquilo que estávamos a falar há pouco… não ficar parado, fazer… não é? Outra que fiz, eu acho que tive mais a ver quase com uma cena de psicologia, não teve a ver com esta coisa dos live streamings, fiz uma situação quase caseira: eu todos os dias, durante a pandemia e por causa das minhas máscaras sorridentes, fazia uns lives no facebook, quase para por as pessoas bem dispostas, porque uma das minhas profissões também é palhaço e senti que nesta altura foi muito importante: o rir! Continuar a sorrir! O chegar a um determinado ponto do dia e mandar umas gargalhadas, que isto não pode ser sempre a bater com a cabeça nas paredes!

Francesco: E estes vídeos estão ainda disponíveis?

Suzie: Estão no meu facebook, agora estou a fazer outra vez a dar umas aulas de haute couture e resolvi fazer vestidos para mim e até para a banda, que nunca tenho tempo para fazer vestidos para mim, então todos os dias ensino a fazer mais qualquer coisa, não ensino nada… porque a minha gata está sempre a me lixar o esquema todo! Arranjei uma direção que são os meus bonecos de peluche, portanto, quer dizer… isto é quase uma esquizofrenia, mas faz bem! Faz bem! A mim diverte-me e sei que diverte mais uns quantos e se puder ser assim, epá melhor ainda!

Francesco: E existe alguma música que possamos colocar aqui ao lado desta conversa, para poder te ouvir cantar?

Suzie: Sim! 

Francesco: Uma que tu possas escolher e que possa eu depois recuperar para juntar…

Suzie: eu acho que se calhar a melhor música parta acompanhar isto, seria um brinde ao futuro e… nós fizemos agora uma música muito fixe que é o “Tchim tchim”! E se calhar podemos brindar ao futuro que ai vem que há de ser risonho com certeza!

Francesco: Perfeito! Muito obrigado Susi, foi um enorme prazer!

Suzie: Obrigado eu, gosto muito de ti como tu sabes!

Francesco: Obrigado!

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