16.06.2022
Olmo Marín é guitarrista, cantor e compositor, originário de País Basco (Espanha). Hoje reside em Lisboa, onde colabora com vários projetos musicais locais, como Sambacalao (em que atua em dueto com seu parceiro Diogo Picão). Entre as outras colaborações sugerimos a Orquestra Latinidade e Rosa Mimosa y sus Mariposas, grupo de cumbia que lançou o seu disco de estreia em 2021. Olmo colabora ainda com artistas de renome da cena nacional, como Nancy Vieira e Salvador Sobral, entre os outros.
Em resposta à situação de atual emergência devida à pandemia do COVID-19 e à necessidade de promover iniciativas que possam avaliar e atenuar o impacto no âmbito das artes performativas, investigar os efeitos da crise, com enfoque no sector da música, documentar as estratégias aplicadas pelos artistas nas suas atividades criativas e de performance, o Projeto Ágora convida Olmo Marín, para compreender os efeitos provocados pela crise sanitária, quer no nível individual, quer no âmbito do sector cultural em Portugal.
Francesco: Boa tarde grande Olmo Marín! Como estás?
Olmo Marin: Boa tarde! Tudo bem!
Francesco: Bem vindo aqui nas conversas do Projeto Ágora, num belo dia de verão, neste lugar maravilhoso, no Jardim de Tourel de Lisboa, podes te apresentar rapidamente e dizer quem és!
Olmo Marin: Boa tarde! Sou Olmo Marin, sou músico do País Basco, de Vitória em Espanha, toco guitarra e vivo em Lisboa há 5 anos e tento ser feliz com a música o melhor que se pode!
Francesco: Muito bem! Te convidei porque estou exatamente entrevistando uma série de músicos da nossa comunidade artística e não só músicos também, técnicos e outras figuras, para perceber mais ou menos como é que vivemos na nossa comunidade, neste sector esta vivência toda da pandemia desde o princípio, até hoje e ainda hoje que estamos em pleno verão de 2021, estamos com problemas… portanto, começaria por perguntar-te: como é que te afetou toda esta pandemia em termos financeiros, por exemplo?
Olmo Marin: Pois, eu cheguei de uma viagem de Cabo Verde e tinha… no fim de Fevereiro… e ia começar o ano a ganhar dinheiro para o verão, para subsistir… porque tinha gastado as poupanças e ai foi quando… pum! Chegou aquela facada
e pronto, foi muito difícil, ao começo, porque ninguém sabia nada… sobretudo economicamente… passaram um mês, dois meses e eu digo… uau! Como vou fazer? Primeiro, pelo menos conseguimos arranjar com o senhorio de pagar a metade da renda, pospor… não deixar de pagar, então pronto! Eu consegui alguma pequena ajuda da Segurança Social, da GDA que me deu algum dinheiro em compras e com uma coisa e outra, até Junho não tive nenhum concerto e aí consegui já a ir a uma pequena tournée na França e consegui uns pequenos fundos para subsistir, mas foi muito difícil!
Francesco: Ah! Conseguiste então tocar um bocadinho no verão de 2020?
Olmo Marin: Sim, em Junho fui à França, numa pequena tournée de 10 dias e já nos finais de Agosto, aqui em Lisboa comecei a ter mais uns concertos e pequenas coisas, não é? Não grandes e… com aquela sensação de que podia ir abaixo, cada coisa que marcavas podiam cancelar e aí de facto aconteceu, já em Outubro e Novembro, que… ahhhh… cancelado! Mas pronto!
Francesco: Tiveste muitos concertos cancelados neste período?
Olmo Marin: Sim, sim! Primeiro, os que já tinha em Março, não é? Quando começou tudo, para o verão… e pronto! Depois, não… para o ano, para o ano, mas muitos destes concertos nunca acabaram por acontecer, se calhar vão acontecer este ano em Setembro ou no ano que vem, mas sim! Depois tinha… tive concertos online, esta foi a grande salvação, porque o primeiro e segundo concerto em que todo o mundo estava: bora! Bora! Aí tinha aquela cena de doar, de dar dinheiro e conseguimos algum cache normal, mas além disso pouca coisa, depois já o quinto live que fizemos, não ganhamos nada, não é? Todo o mundo estava farto de…
Francesco: …já tinham esgotado… estavam fartos seja o público que se calhar os músicos, de se repropor?
Olmo Marin: Claro! Tudo, era chato para todo o mundo os concertos live…
Francesco: …daquele formato… e, por exemplo, portanto em termos de números a atividade reduziu-se drasticamente, por exemplo em 2018 ou 2019 tocavas quantas vezes por ano?
Olmo Marin: Cheguei a tocar 100 concertos, me lembro…
Francesco: 100 concertos por ano?
Olmo Marin: Ya!
Francesco: E 2020 foi?
Olmo Marin: 20… não sei! 30…
Francesco: …sim, dos que eu entrevistei és um dos que tocou até mais…
Olmo Marin: …sim?
Francesco: Sim, mas pronto! Houve também aquela parte de desconfinamento do verão de 2020 e depois… e nos períodos de pandemia que era mesmo de confinamento restrito, estiveste em casa! Como é que viveste este período, por exemplo em termos de criatividade? Conseguiste produzir alguma coisa? Estudar?
Olmo Marin: Sim! Na verdade fui muito ativo, eu nas primeiras semanas era tipo… uau! O que vai acontecer? Mas de repente eu tinha uma banda na Holanda, que são Los Limoneros, que começamos a fazer um projeto de 1 minuto, um gravava um minuto sozinho em casa e mandava para o seguinte e assim íamos montando as músicas e conseguimos fazer quase dez músicas de 1 minuto… depois tinha os projetos, sei lá gravei com os Ayom algumas músicas do disco deles, com o Edison Monteiro, para a Nancy Vieira… para o live da Nancy Vieira fizemos alguma coisa e de repente, coisas assim… de trabalho até: grava, grava! Mas em termos de criatividade tinhas tempo, não é? De repente era, ok! Vou passar cá duas horas a ver o que acontece e acontecia, estás a ver? Consegui acabar 3 ou 4 músicas…
Francesco: …fantástico! Foi produtivo em termos de criatividade… também neste último confinamento de 2021?
Olmo Marin: Não! Este foi pior, este foi… porque o primeiro pronto! Estávamos todo o mundo com medo do que ia acontecer, como ia funcionar o mundo… mas mesmo assim, ok! Estávamos saudáveis, não acontecia grande coisa… mas o inverno de 2021 e Janeiro e Fevereiro… uh! Aí foi tipo, pam! Facada e era inverno… fui-me abaixo um bocado, moralmente também… não sei, foi como
o mundo acabou de repente! E não tinha acontecido da primeira vez…
Francesco: …tiveste alguma vez a sensação ou a tentação de pensar: vou mudar de trabalho?
Olmo Marin: Sim, sim! Já no primeiro confinamento eu disse: eu vou para Espanha, volto para a minha terra, começo a fazer pão na minha aldeia e já está, ou sei lá! E muita gente ao meu redor começou outros trabalhos, não é? Online, cenas com a net ou sei lá, outros trabalhos… então quando a conta foi diminuindo, um… era para ira à rua tocar, que até já tinha feito quando cheguei cá e não tinha nada… mas não tinha turista, não tinha maneira de ganhar na rua também nada… então dar aulas, pronto sempre aquelas outras possibilidades de ganhar dinheiro com a música, mas mesmo assim estava outra possibilidade que era fazer outra coisa… mas pronto! Ainda assim, aguentei!
Francesco: Ok! E agora estamos em pleno verão 2021…
Olmo Marin: …tenho sempre esta sensação, perspetivas? Sim! Estão lá, tenho algum concerto marcado, agora parece que vai ser bom… uma tourneezinha na Alemanha não sei aonde… mas agora que estão a subir os casos outra vez e volta aquele medo não é? De…
Francesco: …e a ideia que venha um inverno, mais um inverno como este?
Olmo Marin: Uf! Vamos ver!
Francesco: Ok! Vamos ver!
Olmo Marin: Paciência!
Francesco: Pensamento positivo! Eu estava a pensar… em relação aos concertos que fizeste, por exemplo aqueles online live e como este é um formato performativo que se está um pouco impondo, o que é que tu sentiste por exemplo em tocar neste tipo de situação?
Olmo Marin: Eu não gostei nada! Ou seja, era bom ter algum concerto, sentir que tinha alguém a ouvir a minha música e eu tocar para as pessoas, mas o ritual de ir a um lugar, fazer a prova de som, ok! Jantar, esperar… de repente chega o público, sentes o alento, sentes o silêncio, sentes as pessoas num palco qualquer… é algo que esquecemos, não é? Durante um ano e tal… isso foi… eu tinha muita saudade disso… e ok! Tocas, a malta aplaude no ecrã mas não sentes o calor, não sentes a energia que para mim é o que faz de um concerto ter sentido, uma outra coisa… partilhar esta energia!
Francesco: Claro! Em relação aos concertos mesmo ao vivo? Deves ter feito na França em 2020 e outros… com o público afastado… como é que si diz, com a distância de segurança, com máscara e com restrições várias… o que é que sentiste?
Olmo Marin: Me lembro a Festa do Avante do ano passado 2020, tocamos coma banda de cumbia que tenho, Rosa Mimosa Y Sus Mariposas e tinha que? Quinhentas pessoas? Mas estavam numa área de um quilómetro, não é? Duas cadeiras aqui, duas ali, duas ali… e normalmente era esse calor, todo o mundo a dançar meio nu… e de repente era a dançar numa cadeira! Era horrível a sensação de que a música não chega, como que não chegava… eu tinha uma sensação má… pronto, não era a mesma coisa, não é?
Francesco: Sim, sim! Portanto considerando por exemplo este novo formato de performance online em streaming, que agora chegam mensagem de todo o lado de novas plataformas que querem que tu te escrevas para ter acesso ao público global, etc. E restrições e cancelamentos, concertos que não são reagendados… que tipo de estratégia tens… ou perspetivas futuras para sobreviver, resistir?
Olmo Marin: Boa pergunta! Não sei, eu vivo na esperança um bocadinho de que… não sei se vai voltar à mesma normalidade de suar juntos num palco… mas vivo com a esperança de que aconteça, de que os concertos voltem mais ou menos a ser o que eram e a música… uma coisa que percebi é que a música foi valorizada muito mais do que era antes, em termos económicos… agora todo o mundo é: ok! Tens que pagar 5€, reservar! E diz: ok, boa! Boa, fixe, vou fazer isto! Antigamente quase tudo era de graça, ou já… olha: um concerto que é 3 ou 5 €, epá! Com 3 recebes mais gente! Agora não, está quase sempre cheio… porque tem menos lugares também, mas pronto… o pessoal já percebe que a música pode ser valorizada a um nível económico, que antigamente não era tão claro!
Francesco: Isto é interessante! Mas por exemplo, sentiste que o público valoriza mais a música… e em relação por exemplo à pandemia e a tudo aquilo que aconteceu, deu para ver que a situação dos músicos e dos artistas em geral é de uma precariedade extrema?
Olmo Marin: Pois, sim!
Francesco: Portanto, se… digamos assim, a política cultural valoriza? Não valoriza? Tentou valorizar mais depois da pandemia, ou não?
Olmo Marin: Depende dos países eu acho, nós moramos cá em Lisboa em Portugal e eu tenho a sorte de que… tinha a atividade aberta e ajudaram-me… ajudaram-me da… Fomento da Cultura e de aqui e de ali e consegui sobreviver com isto também bem e agradeço muito estas ajudas! Só que claro a maioria dos músicos não tinha estas ajudas e ninguém se responsabiliza, não é? Desse mercado negro, dessa cena assim escura que acontece… tu vais tocar a um lugar, te dão o teu dinheirinho, com as entradas… és uma pessoa que estás tipo nas margens da sociedade e então acho que poderia ser uma maneira muito mais clara e muito mais ativa, um governo e uma sociedade a valorizar de uma maneira política e de uma maneira consciente a estes músicos, aos músicos que não são da super primeira linha mas que fazem parte da sociedade…
Francesco: …e que trabalham, tocam às vezes 2 ou 3 vezes por semana…
Olmo Marin: …claro! Mas ninguém… não está no sistema de alguma maneira…
Francesco: sim! Não está no sistema porque não pode exatamente… declarar que fizeram estes tipos de trabalhos… sem contar que depois cada concerto implica ensaios, preparação do repertório, trabalho…
Olmo Marin: …este trabalho que nunca se valoriza, mas que está lá!
Francesco: Ok! Portanto podemos só esperar que a política resolva esta… pelo menos, melhore a situação dos músicos?
Olmo Marin: Sim! Que sejamos visíveis para alguém, não é?
Francesco: Ok! Para concluir a nossa conversa, gostava de saber se produziste durante todo este período algum… sim! Já disseste que tocaste em live streamings, alguma produção se calhar de discos, que possamos linkar aqui a esta entrevista para os ouvintes depois ouvir a música do grande Olmo Marin…
Olmo Marin: …sim! Estamos a acabar… estivemos a acabar… a gravar o disco de Sambacalao que é o meu duo com Diogo Picão, estamos a acabar o seu disco dos originais que é o segundo disco do Diogo Picão, no qual participo e acabamos… estamos a acabar o disco de Rosa Mimosa Y Sus Mariposas…
Francesco: …ah! Que gravaram em pleno confinamento!
Olmo Marin: Em Fevereiro, mesmo confinamento duro! Que foi difícil, aconteceu uma coisa que… no primeiro dia da gravação, alguém da banda, que somos 11 deu positivo… então foi tipo… cancelado! Ninguém morreu, tudo bem, mas pronto… foi um período difícil, porque todo o mundo estava fechado, tínhamos que imprimir aquelas páginas… todo para ir a trabalhar ao estúdio…
Francesco: …ah! A autodeclararão… a auto certificação?
Olmo Marin: Sim! Foi um filme do caraças, mas conseguimos… por enquanto temos um disco a sair do forno…
Francesco: …que experiência! Nunca vais esquecer estes dias…
Olmo Marin: …foi difícil! Sim mas… é a vida, são experiências!
Francesco: E estes discos vão sair ainda em breve?
Olmo Marin: Sim, sim! Este verão acho eu…
Francesco: …ah! Já este verão? Assim será fácil… podes indicar só duas músicas assim… significativas e comentar? Assim para eu escolher depois e linkar, assim as que mais gostaste… ou as que tem mais significado para ti!
Olmo Marin: Fiz uma música muito linda durante a quarentena para uma pessoa que não conhecia muito, mas que é muito linda… chamada “Margarida” e estou a compor muitas lindas melodias instrumentais que vão sair mais à frente, se calhar com o meu projeto, no qual vou contar contigo!
Francesco: Ah que maravilha! Que boa noticia!
Olmo Marin: E sei lá, com a cumbia também estamos a fazer o nosso single que é “Rio Arriba” que também eu compus e vai sair de aqui a pouco… fizemos um grande videoclip, com Cláudio Alves!
Francesco: Portanto, em breve estão prontos e dará para linkar isso! Então, agradeço imenso pelo teu contributo Olmo, maravilhoso!
Olmo Marin: Bueno! Obrigado!
Francesco: Obrigado e…
Olmo Marin: …grande Ciccio!
Francesco: E espero que tudo corra bem para este verão 2021 e em breve também estas entrevistas serão públicas e acessíveis para o público…
Olmo Marin: …obrigado por me meter aqui contigo!
Francesco: Grazie Olmo!
Olmo Marin: Gracias até a próxima!
Comentários