22.06.2022
Ricardo Quinteira nasceu em Angola e vive em Portugal desde criança. Formou-se no Conservatório Nacional e com professores de flamenco.
Após mais de 20 anos de trabalho com projetos ligados à música de Angola, de Cabo Verde e da América do Sul, que o levaram a tocar nos mais diversos palcos da cena mundial, Ricardo aproveitou a pausa forçada provocada pela pandemia de Covid-19 para, finalmente, iniciar a carreira em nome próprio. Lançou recentemente várias músicas que compõem o seu primeiro trabalho discográfico à solo, com nome “Pandemic Tales”. Tem colaborado em jeito de parceria com vários projectos autorais bem como integrado pontualmente bandas de suporte de artistas das mais diversas latitudes no âmbito da assim chamada World Music, tais como: Ahí Namá, Ayom, Bruno Pernadas, Catarina Santos, Chalo Correia, Coreon Du, Dazkarieh, Eneida Marta, Espírito Nativo, Jon Luz, Lucía Echagüe, Nelo Carvalho, Oquestrada, Orquestra Todos, Rob Curto, Rubi Machado, Sara Alhinho, Susana Travassos, Tété Alhinho, The Gift, Tonecas Prazeres, entre muitos outros. Atualmente colabora com diversos artistas, entre os quais Ayom, Chalo Correia e Lucía Echágue.
Em resposta à situação de atual emergência devida à pandemia do COVID-19 e à necessidade de promover iniciativas que possam avaliar e atenuar o impacto no âmbito das artes performativas, investigar os efeitos da crise, com enfoque no sector da música, documentar as estratégias aplicadas pelos artistas nas suas atividades criativas e de performance, o Projeto Ágora convida Ricardo Quinteira, para compreender os efeitos provocados pela crise sanitária, quer no nível individual, quer no âmbito do sector cultural em Portugal.
Francesco: Olá Ricardo! Estamos aqui, boa tarde, buon pomeriggio! Estamos aqui num lugar único, uma igreja de 1400 abandonada, que resistiu às intempéries, aos terramotos e estamos aqui no centro de Itália, numa região que já foi a Etruria dos etruscos! Estamos aqui em plena tournée, num day off, tenho a honra de poder te entrevistar: podes te apresentar!
Ricardo Quinteira: Alo! Muito obrigado pelo convite para participar neste ato, que antes de mais é um ato cívico, eu acho… estas entrevistas! Para quem não me conhece sou o Ricardo Quinteira, músico residente em Portugal toda a vida e é óbvio que me apresentar aqui contigo hoje nesta… neste pedaço de arqueologia, no meio de Itália, numa aldeia medieval, num dia off da nossa tournée, é algo que muitos dos nossos colegas não têm a mínima hipótese de vivenciar, nem sequer um dia de trabalho normal, quanto mais nessas condições fora da sua terra, poder viajar, etecetera, devido às condicionantes da atual situação pandémica que ainda dura há quase dois anos!
Francesco: Perfeito! Muito obrigado Ricardo! Então, vamos começar mesmo por isso, já que estamos aqui, estamos atualmente em tournée, mas muitas das nossas conversas, quando estamos num jantar ou num almoço, são… se concentram sobre esta questão da pandemia, das vacinas, do green pass, agora estamos na altura da discussão global sobre o green pass, etc. Então, vamos voltar um pouco atrás: em Março 2020 começa este filme da pandemia global e eu gostava de resumir, digamos um pouco a tua experiência enquanto músico, como é que viveste desde o princípio esta pandemia global, como é que te afetou a nível digamos emocional, pessoal e a nível profissional?
Ricardo Quinteira: No início, nos primeiros dias foi aquele susto, aquela surpresa geral, não é? Que toda a gente sentiu que se foi instalando e cada vez mais impondo-se, quase como um filme! Toda a gente estava com esta sensação que parece que estávamos a viver um filme de ficção científica. Quando se deram as primeiras restrições a nível fundamental, da imposição de ter que ficar em casa e sair apenas para os essenciais, eu lembro-me bem desta fase porque eu fiquei até contente, estava muito contente como já não estava há muito tempo a nível profissional, porque eu finalmente tive um tempo forçado onde não tinha que andar naquela correria… que nós os músicos temos que promover constantemente para poder ter trabalho, não é? Estamos sempre atrás de alguma coisa e não temos… geralmente não temos um income fixo de uma só atividade, temos… a nossa atividade é repartida por várias… vários sectores e ali eu fui forçado a parar! Então tive um tempo privilegiado para poder dedicar-me a projetos de cariz artístico pessoais, nomeadamente escrever, continuar a escrever o livro que estou a escrever há muitos anos: um livro técnico sobre guitarra e começar a pensar no meu projeto à solo, individual… algo que eu ando também a protelar há muitos anos como muitos dos nossos colegas… estamos sempre a trabalhar para alguém, em outros projetos… ou normalmente queremos de imediato, não é? De dinheiro… mas não conseguimos muitas vezes estar a abdicar tempo a um projeto que requer mais pesquisas, que requer mais laboratório, digamos assim… porque não é prático e a nossa vida, assim… não o permite! E então foi aí um mês, um mês e tal… bastante contento por estar enfiado em casa e só ir ao supermercado! Claro que esta alegria começou a murchar assim que eu comecei a ver no horizonte que o dinheiro para eu ir ao supermercado estava a acabar! E o stress instalou-se quando eu percebi que já só faltava, já só tinha dinheiro para uma semana… pronto! E a partir deste ponto, já tinha dinheiro só para uma semana! Houve ai uns meses que a coisa apertou mesmo… tive que pedir dinheiro emprestado para comer e com o passar do tempo este stress tornou-se permanente porque como sabemos, já vão lá quase dois anos, um ano e meio! Mas, vão ser dois, não é? A música e o nosso sector é muito cíclico, a atividade prolifera mais… muito mais no verão, não é? Que é quando há sol e concertos ao ar livre, as pessoas saem mais… pronto! E no fundo é isso, são dois anos… de aqui há um bocado chega o inverno, pronto! Não há música, o inverno é a época baixa, é a mais difícil… e portanto este stress tornou-se permanente, embora as coisas já tivessem melhorado um pouco, não é? Temos visto a melhorar um pouco, em relação àquela fase inicial, mas… eu sendo muito honesto e falando até com os meus mais próximos, admiti que sim! Que fiquei a sofrer de um stress permanente, uma ansiedade permanente com a qual acho que tenho lidado bem, graças a Deus! E a nossa atividade ajuda a isso, é uma atividade que é bonita, não é? Que mexe com a alma, com a música e tal, mas sim tenho que admitir que este stress ainda continua cá, permanente… não é? E é aquela questão que nos consome: como é que vai ser para a semana? Como é que vai ser de aqui a duas semanas? Como é que vou pagar isto e aquilo? Estamos constantemente nisto e isto é muito desgastante!
Francesco: E em termos, por exemplo de apoios do governo, conseguiste algum apoio que aliviou esta ansiedade, esta situação de contingência, assim… de escassez de meios para sobreviver?
Ricardo Quinteira: Eu há pouco referi que tive que pedir dinheiro emprestado para comer e também, agora posso referir que eu acedi a vários apoios, porque organizei-me e estava atento ao que se ia passando à volta, fui perguntando! A comunicação com os meus colegas e com algumas instituições… e eu recebi bastantes apoios, embora… se eu tive de pedir dinheiro para comer… é notório que estes apoios não chegaram e eu tive que pedir dinheiro para comer pelo menos três vezes, portanto… que eu acho que é uma situação já no limite… uma situação quase “indignificante”, não é? Para quem estudou, fez o seu percurso normal, é alguém… eu considero-me alguém bem sucedido na minha profissão, acho que em termos médios isto é preocupante, para quem fez um percurso dentro da sociedade minimamente dentro dos standards, dos cânones aceitáveis, não é? E depois chegar a esta situação e ver-se com estas privações, eu penso que é um sinal muito preocupante para a sociedade onde vivemos, que denota exatamente um grande desequilíbrio entre aquilo que nós prometem, ou que nós prometeram quando nós éramos crianças, que se estudássemos e fizéssemos as coisas por um certo caminho, tudo iria mais ou menos dar certo! Não quer dizer que fossemos ficar ricos, ou que não tivéssemos problemas, mas quer dizer pelo menos que tivéssemos o suficiente para viver dignamente… pronto! E acontece que chega uma pandemia e vemos que pelo menos metade da sociedade fica numa situação precária, não é? Numa situação muito complicada!
Francesco: E tendo em conta esta precariedade, agora… na nossa perspetiva… enquadrando o sector artístico, quais espectativas poderias ter por exemplo do sistema, da política, para que isto melhorasse, ou seja: nesta altura é que veio à tona esta extrema precariedade de todos os que trabalham no sector artístico…
Ricardo Quinteira: …eu esperava e continuo à espera, embora sem grandes esperanças que se realize de uma forma pacifica e sã, grandes altercações a nível social! Eu esperava que a comunicação das autoridades em todo este processo que é transversal e que acaba por afetar em toda a linha a sociedade, mas toda mesmo! Esperava que a comunicação fosse uma comunicação mais organizada, mais clara e que promovesse mais paz social e não tanta divisão social como gerou! E eu acho que esta divisão é uma divisão que acaba por ser artificial, onde as pessoas se posicionam defendendo posições éticas, portanto algo conceitual, mas no fundo… pessoas que nunca estiveram tão divididas assim… toda uma vida! Não é? Portanto, por isto que eu chamo esta divisão “artificial”, não é? Todas estas bipolarizações, quanto ao que fazer, quanto à melhor decisão a tomar, todos estes desequilíbrios e ré equilíbrios, que é: se há alguma coisa que as pessoas com quem eu debati… contigo por exemplo, com todos os meus amigos e familiares, com a minha mulher… quer dizer nós reparamos que as discussões ficam acaloradas, quer dizer, ficamos nós já num nível de stress comum! Num cenário que não fosse de pandemia e de restrições brutais como este ano vivemos, teria acontecido desta maneira… geralmente, não… quer dizer… vejo que não tem este tipo de dinâmica social, continuarmos uma discussão sobre um tema… é porque realmente este tema afetou mesmo a sociedade! Eu, por exemplo, fiquei um ano sem estar com a minha mãe e com a minha avo! Tive cinco meses sem poder estar com a minha companheira no 2020, porque ela teve que mudar de país, teve que voltar à terra dela, depois não podia voltar por causa das restrições! Quer dizer, é muita coisa… e o que eu esperava era que os governos fossem mais claros… que era na comunicação, na explicação mesmo… na questão pedagógica, quer depois ao nível da tomada de decisão, não é? Porque nós, portanto… eu acho que esta divisão da sociedade começou a ruir por aí, não é? Por falta de uma constatação de uma maior coerência nas decisões que são tomadas, porque nós vemos que certas pessoas, certos sectores da sociedade eram obrigados a não trabalhar, enquanto outros podiam trabalhar, mas nós não conseguíamos ver o que é que… claramente o que é que diferenciava estas duas profissões em termos de risco da proliferação da pandemia. Nós vimos que certas pessoas recebiam os apoios mais facilmente do que outras pessoas, por questões burocráticas absolutamente insignificantes, preenchimentos de formulários, preenchimento de requisitos, à priori… quando aquilo o requisito máximo à priori é que toda a gente tem que continuar a comer e a pagar as suas contas, quer dizer, porque estas diferenciações? Porque isto divide a sociedade! Porque enquanto nós não chegarmos ao nível de ter que pensar, como é que eu vou comprar comida para eu comer para a semana ou no final desta semana? A gente consegue relativizar mais e… agora quando nós chegamos a este ponto, o nosso nível de stress é outro e nós não conseguimos já ser tão flexíveis em direção ao outro, ver o ponto de vista do outro, porque estamos realmente já muito perto do nível de sobrevivência pura, não é? Ou pelo menos assim o sentimos, não é? Acredito que eu estou a dizer isto e isto com certeza não tem o mesmo significado para pessoas que vivem noutras partes do planeta, que não na Europa privilegiada, não é?
Francesco: E Ricardo, mesmo nestas últimas semanas, esta divisão da sociedade veio a ser provocada também por uma série de decisões governamentais e internacionais sobre a questão do Green Pass. Nós que trabalhamos por exemplo no sector artístico e neste caso músicos, estamos acostumados a tocar por grandes audiências e nesta tournée estivemos em alguns países onde as restrições eram mais “blandas” [fracas], ou menos fortes do que em outros países. Ao mesmo tempo, as decisões sobre o Green Pass e a vacinação obrigatória ou não, entre aspas, impacta na nossa própria vivência de músicos: temos que viajar, temos que trabalhar e para o fazer estamos obrigados a seguir uma certa… um certo percurso. Como é que isto impacta na tua… digamos, na tua maneira de abordar o teu trabalho e ir para… seguir para frente?
Ricardo Quinteira: Eu posso dizer que eu sou um sortudo neste aspeto, aliás nós tivemos a oportunidade de trabalhar neste projeto com o qual estamos aqui, como ponto central em Itália, curiosamente o sitio da Europa onde a pandemia explodiu e mais curiosamente, agora as coisas estão muito melhor e inclusivamente conseguimos trabalhar cá o ano passado, em 2020 demos 17 concertos! Portanto, quando vimos uma… aqui podemos constatar, por exemplo, uma diferença muito significativa em relação à organização e à gestão da pandemia, relativamente a um país que é quase ao lado do país onde nós vivemos que é Portugal, não é? Que é o segundo verão consecutivo onde nada acontece! E em Itália, onde foi que as coisas explodiram, 6 meses depois nós estávamos em Agosto a dar 17 concertos, só tivemos 3 concertos cancelados. Para além disto, o facto de termos que estar constantemente a fazer testes, hoje em dia a maior parte de nós está vacinada, eu não! Tenho que estar sempre a fazer testes, que é incomodo, não é? Um pouco chato, mas é um mal menor, comparado com o que, eu diria o 90% dos nossos colegas tem acesso… porque nem se… porque, quer dizer… já é tão difícil tocar, já é tão difícil arranjar sítios para tocar os concertos e ainda mais com esta questão de ter que testar, nós temos que viajar, estar informados de todas estas burocracias e é preciso ter algum jogo de cintura, é preciso ter algum conhecimento de como fazer as coisas não é? De como organizar… e claro! Nenhum de nós, dos músicos não têm ou não tiveram ainda a possibilidade de entregar projetos internacionais como este, portanto têm que ficar confinados ao seu país, onde aí vai ser, vai operar segundo as regras… pronto! No nosso caso, eu acho que nós somos privilegiados porque conseguimos internacionalizar a nossa atividade podendo ir para vários países, não só na Itália, tocamos já em vários países: Suíça, Alemanha, República Checa, Espanha, Itália e portanto… claro que todos os concertinhos que entrarem, contam não é? Para as contas do mês! Mas acho perfeitamente que o nível de stress é muito maior, toda a gente tem que estar com o teste, toda a gente tem que estar com as vacinas e os testes em dia, toda a gente tem que fazer esta gestão! Um stress porque, relativamente às pessoas que têm que fazer teste, não se sabe quem pode acusar um positivo e podia comprometer logo um concerto, é muita ansiedade, é muito… mas ainda assim, como eu digo… acho que somos uns privilegiados! Portanto que isto é o melhor que nós conseguimos e é bastante positivo, para estar agradecidos ao cosmos por ter conseguido trabalhar nomeadamente este ano, pronto! E é isso que está…
Francesco: …e já que tiveste esta oportunidade de poder tocar e fazer vários concertos nesta altura especial, nesta época especial, lidaste com situações de concertos com restrições e lembro que em 2020 era muito mais ainda forte a questão do isolamento entre as cadeiras, o público sentado com “mascarinhas” e este ano há situações um pouco mais livres. Queria saber como é que viveste, ou como é que isto pode ter impactado a tua própria performance, de subir num palco grande ou médio grande, e ver o público assim todo sentado, ou situações similares?
Ricardo Quinteira: Esta pandemia chegou ao corpo, ao espírito e à alma! Nós somos músicos, estamos habituados a despertar a emoção nas pessoas e a comunicar com elas, num nível que não é o nível quotidiano das nossas relações regulares, digamos assim com a sociedade… podemos encontrar realmente um público quase… um público que está claramente doente, não é? Doente no sentido que o seu comportamento social é todo ele muito contido numa primeira fase, quase assustado, quase incrédulo, frio! Mas depois claro há o… notei em vários concertos, temos de ver como é que a música, a arte, a música… podia descongelar um bocadinho estas emoções e claro! Os agradecimentos no final dos concertos são muito mais sentidos, nós já recebemos inúmeras vezes esta abordagem de pessoas, ainda este ano recebemos várias vezes… foi o primeiro concerto que eu vi desde o início da pandemia e as pessoas quase, epá! Coradas! Rosadas e outras quase a chorar… quer dizer, é realmente, é realmente tocante, não é? Para nós é bom ouvir, porque nós contribuímos para algo bom mas ao mesmo tempo é sei lá? Uma declaração cósmica, quase um sinal de que algo está profundamente… algo está profundamente contra natura nesta forma nova de nós vivermos e que parece estar a querer impor-se como norma! Quer dizer… é incrível como no auge da nossa civilização, no auge da nossa sabedoria, no auge da nossa evolução de milhares de anos, o melhor que nós atingimos ou que quer dizer… a nova normalidade seja esta! Que dizer? É completamente… é um desafio! Parece que estamos, não é? A andar para trás é um desafio tremendo e eu acho espiritualmente, falando assim… eu acho que é muito interessante de observar e tentar perceber como é que nós vamos sair disto, mais fortes! Que eu sou um otimista! Já estou… eu acredito que sempre tudo vem para melhorar, às vezes acontecem estas baixas civilizacionais mas é sempre para nós depois integrarmos mais consciência do cosmos e de tudo à nossa volta e eu acho que essa… toda esta situação, pôs toda a gente a pensar e ainda é, estamos a pensar em muitas questões, que se calhar ninguém tinha pensado antes! Também por esta razão, eu e pela urgência da situação, já agora… refiro que nesta pandemia tive a oportunidade de, quer dizer… de começar a lançar o meu trabalho à solo que foi um trabalho que eu estava a adiar, adiar, adiar… mas quer dizer… com toda esta urgência, toda esta nova vida estranha que nós começamos a viver, levou-me a pensar que sim! Se eu.. eu tive tantas oportunidades de começar a fazer um trabalho, mas não começava porque, se calhar às vezes com uma certa procrastinação… eu depois mais à frente vou ter um momento ideal… e aqui esta pandemia foi mesmo, quer dizer… a carta branca! Foi mesmo o sinal claro que era para começar já, e fiz… estou a lançar um trabalho que tinha de ser dedicado ao ano de 2020, que é um trabalho que eu chamei de “Pandemic Tales“, histórias e contos da pandemia, contos pandémicos onde no fundo exploro o sentimento humano em todo o seu espectro. Comecei, nos primeiros temas que lancei por um lado talvez mais obscuro, mais negro… no que… devido ao vazio espiritual que eu acho que a nossa sociedade ainda goza bastante, de um vazio espiritual… e pronto! Estou a fazer um caminho, mas que foi natural, eu não planifiquei mas na seleção dos temas eu estou a fazer um caminho, eu estou a dizer um caminho porque estou a lançar um tema de cada vez! Um caminho das trevas para a luz, para deixar uma mensagem, para acabar com uma mensagem de luz e positiva! Não gostaria de adiantar mais pormenores, porque eu acho que o trabalho depois fala por si, porque é vídeo e pronto! Mas realmente senti esta necessidade de o fazer, claro sem qualquer income, não é? É uma coisa que completamente eu estou a oferecer ao mundo e penso que vale que eu chegue a ir ao palco com estes trabalhos, porque aquilo é um reflexo exatamente daquilo que nós vivemos, é que foi um produto para ser consumido em casa confinado! Tem um vídeo para as pessoas verem e por isto tem também uma vertente audiovisual, a parte do vídeo que é bastante forte, digamos assim!
Francesco: E podes comentar duas ou três ou todos os quatro vídeos que produziste, de maneira que nós depois podemos colocar aqui e linkar a esta entrevista para todo o mundo ouvir a tua música?
Ricardo Quinteira: Os vídeos? Há um primeiro que é mesmo uma declaração espiritual a um político, é uma tentativa de… a partir de um plano espiritual comunicar com as pessoas num plano político, ou seja: é quase uma tentativa de comunicar numa língua, com alguém que fala outra língua, não é? E… mas mesmo assim… há humanos de um lado e humanos do outro, portanto há uma esperança de que a comunicação vai acontecer!
Francesco: Como é que se chama esta?
Ricardo Quinteira: Esta é justamente o“Emergency State”!
Francesco: E a segunda?
Ricardo Quinteira: A segunda, o segundo tema chama-se “Bebê” o segundo tema que eu lancei é o “Bebê”, onde eu estou a falar com os bebês que estão a nascer sobre aquilo que poderão encontra aqui quando chegarem e eventualmente para não se assustarem, demasiado! A terceira é um tema que é meio enigmático, que se chama “How not?” e que apela para a mensagem do… de como a união pode fazer a força! E o quarto tema que eu só lancei 4, é o… olha, esqueci-me do nome do 4º tema…
Francesco: …possível??
Ricardo Quinteira: É o “Awakening from the dream”!
Francesco: Como é que é?
Ricardo Quinteira: “Awakening for the dream”! Acordando para o sonho, que tem múltiplos sentidos! Este sonho, não é só o sonho que nós temos, literal… durante o período de sono… mas também… que eu considero que é muito significativo das nossas vidas, aliás como o senhor Freud fez o favor de nos fazer perceber, mas também o sonho quando nós estamos acordados, o sonho enquanto realização, e… mas ao mesmo tempo, confrontando isso com a realidade, pronto! Não querendo avançar aqui com factos mais concretos, para não tirar de facto a sopresa, mas esta… esta nossa relação no fundo entre o consciente e o inconsciente e como é que as duas coisas podem estar ligadas e como é que as duas coisas se podem integrar! Porque acho que no fundo aquela mensagem espiritual, que é mais o meu posicionamento artístico, não é tanto a mensagem política, é mais a mensagem espiritual, não é entretenimento também… mas sim pode conter deleite, deleite, acho que é muito importante nós termos este foco na nossa vida! Deleitarmos com a vida, aproveitarmos a vida que tem… que é uma bênção, não é? E nós temos é que ter um compromisso com a nossa… o nosso empenho, em cada vez mais entendermos as coisas de perspetivas mais abrangentes, que acho que é tudo uma questão de perspetivas! Quando nós pudermos ver de acordo com uma perspetiva mais e mais abrangente, acho que há uma relação inversamente proporcional, quanto maior a abrangência da nossa perspetiva, menor o sofrimento, eu acho! Eu acredito nisto!
Francesco: Muito obrigado Ricardo! Por esta entrevista que me concedeste aqui ao Projeto Ágora, neste lugar maravilhoso, nesta cidadezinha, digamos… vila romana, etrusca, nesta pausa no meio da nossa tournée, foi uma conversa muito produtiva, um bom contributo para o debate que esperamos abrir!
Ricardo Quinteira: Eu só tenho que dar as felicitações por esta tua iniciativa, que no fundo vejo que é mais uma consequência, mais uma dádiva de alguém que está a contribuir no fundo para esta abertura das perspetivas da comunicação entre todos nós de uma forma mais profunda e mais empenhada e acho que vai ter um valor digamos quase antropológico para o futuro, que a sociedade e especificamente a sociedade artística vai agradecer!
Francesco: Obrigado Ricardo, obrigado!
Comentários