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22.03.2024

Carlos Cavallini – Nem Todo Mundo (2024) (single)

Carlos Cavallini – Nem Todo Mundo (2024) (single)

Carlos Cavallini mede O Tamanho do Tempo em músicas banhadas pelo mar

Medindo, em música, O Tamanho do Tempo, o disco é também um exercício introspectivo, pessoal: “As músicas foram todas escolhidas pensando muito nisso, daí a minha demora em fazer o disco. Fala muito de mim e era preciso que eu estivesse muito à vontade para isso.” Em termos de influências musicais, elas vêm muito do já citado triângulo Rio-Minas-Bahia: “Cresci com muito samba e também com muita MPB. A minha família admirava muito os grandes nomes da MPB, Chico Buarque, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, e eu lembro-me de ser uma criança que sabia cantar músicas do Chico, Gal, esses assim, o que não era muito comum entre os meus amigos, que já estavam noutra fase, a do rock brasileiro. Isso me influenciou muito, além do rock alternativo e, mais recentemente, essa nova MPB, geração que foi até o tema da minha tese [título provisório: Pensar a nova MPB no Brasil e a nova música brasileira em Portugal]. É engraçado que eu olhava para o Domenico e o Ricardo de uma perspectiva académica a acabei por gravar com eles.”

Nuno Pacheco, Público

SINGLE “NEM TODO MUNDO”

Já com Lisboa no coração pelos 15 anos de residência na cidade, Carlos Cavallini lança agora “Nem Todo Mundo”, segundo single de seu disco de estreia O Tamanho do Tempo, produzido por Ricardo Dias Gomes e Domenico Lancellotti, que será lançado dia 1 de Março.

Em “Nem Todo Mundo”, o dedilhar com assinatura de Davi Moraes abre espaço para a voz e a letra de Carlos Cavallini, que desforra muito daquilo que construímos utopicamente sobre nós e os outros, discutindo questões sobre convivência e cotidiano – “nem todo mundo entende, nem todo mundo aprende”. Segundo o cantautor, “a canção foi feita durante as gravações e eu tive muita vontade de que ela entrasse para o álbum por estar ligada aos tempos que correm”.

O disco vai ser apresentado ao vivo no dia 22 de Março no Samambaia em Lisboa num concerto partilhado com Sam Nóbrega.

DISCO O TAMANHO DO TEMPO

Atento ao que nos faz bem

Em seu disco de estreia “O Tamanho do Tempo”, Carlos Cavallini contempla a imensidão do tempo e do mar com minimalismo do eu, enaltece os horizontes dos infinitos amores e nos oferece amizade por todo o percurso da obra.

Imenso céu e sempre mar.

Infinitos desertos, ondas e caminhos em que estaremos de alguma forma no tempo. A primeira viagem de Carlos Cavallini em disco é muito do mundo, do eu; condensa bastante de experiências dos sons e sentimentos que viveu, afinal o primeiro disco é sempre um apanhado de composições e experiências de épocas diversas que levaram o artista até uni-las em estúdio. Há beleza de muitos momentos e sabores a cada faixa, numa obra que se abre com o mar e sua imensidão. O mar para Carlos começou em Vitória, onde nasceu no Brasil e virou cais em Lisboa, onde resolveu aportar há 15 anos.

Ao longo da obra que nos cria, recria e nos mergulha em mares tranquilos, o tempo é protagonista em um cenário para audição de um disco que nos conecta com tantos abraços. No ar, no espaço, nas pessoas e na natureza. As 12 faixas são 12 elos entre si e entre quem as ouve.

Agradecimento e contemplação à beira de águas intermináveis abrem “O Tamanho do Tempo”. Apresentar-se como chuva, obediente ao vento, e se reconhecer como muito do que parece ao ouvinte, é começar o percurso do disco já a dizer um pouco sobre sua alma. Em “Sempre Mar”, Carlos não esconde o ‘eu’, ao contrário, nos oferece a face mais interior do seu sentimento e criatividade. A doçura de apreço nas palavras namora com os sons enquanto sintetizadores e as guitarras de João Erbetta nos transportam de Lisboa às paisagens sonoras e tranquilas do Ceará.

Referências com sopros suaves nos lindos arranjos de trompete e flugelhorn do talentoso Aquiles Moraes enlaçam “Natureza” (segunda faixa do disco). A sequência sonora doce entre influências do Cidadão Instigado às baladas Soul de Cassiano traz reconexões poéticas entre parte de um todo humano à sua mistura com a natureza. ‘Ser capaz de estocar amor pra depois distribuir’ é promessa da segunda faixa que se cumpre na audição e nas canções subsequentes.

A produção musical e os arranjos de Ricardo Dias Gomes e Domenico Lancellotti são delicados, criativos e multiplicam os significados das canções para seguir o seu enlace. Essa linguagem não-verbal sensível da dupla é fundamental para a compreensão da narrativa de ‘O Tamanho do Tempo’.

Se em muitos momentos a obra se enlaçará com o contemplar da natureza, em outros se mostrará cosmopolita com a doçura poética de estar atento, mesmo nas grandes cidades e suas dinâmicas mais complexas, aos detalhes mais delicados sobre as relações e sentimentos humanos. Isso se reflete em violões das referências interioranas do Brasil até as baterias e arranjos a la Strokes e Weezer.

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