Dullmea – Outro Outro (2024) (single)
Que outro vive dentro do outro?
Desafiei o Pedro Galiza a escrever sobre esta pergunta que me inquieta, sobre este novelo de problemáticas tão vastas, tão complexas e tão antigas como a própria humanidade. Do papel à partitura, este texto maravilhoso foi ganhando forma enquanto se respondia a si mesmo. A minha única tarefa foi manter viva a pergunta: Que música vive dentro das próprias palavras? Por isso, daí em diante, foi o escrito que decidiu tudo o resto: pediu-me que fosse a voz do Jaime Coelho da Silva Barreiros a dizer a abertura; fez-me abrir a caixa do violino e da viola novamente; e quis ser misturado, masterizado e polido pelo Ricardo Pinto até brilhar. Ao fim de meses de trabalho, chegámos a este objecto que convida à reflexão sobre a experiência da alteridade e também sobre as consequências da sua instrumentalização enquanto fator de exclusão.
“O estudo do outro é, forçosamente, o estudo do eu. Todas as fronteiras são imaginárias e a separação é uma ilusão que, ainda que amiúde útil ao poder, à tradição ou à estase, diz muito mais de quem aparta do que de quem é apartado. Escrevi outro outro com essa ideia em mente: quem aparta, define-se; quem é apartado, permanece, talvez, sempre indefinível. Livre, ainda que ostracizado.
Fora os devaneios literários e apocalípticos do texto, ouço a voz desta mulher excluída por ter uma “pele assim meio de uma cor assim meio” a ecoar por todo o lado na nossa contemporaneidade. E a sua solidão é tão comum, tão nossa, tão urgente, que mais vale dar-lhe ouvidos do que ficar à espera do fim do mundo.”
Pedro Galiza
Créditos:
Texto de Pedro Galiza.
Música de Dullmea.
Voz infantil de Jaime Coelho da Silva Barreiros captada por Rui Barreiros.
Mistura e masterização de Ricardo Pinto.
Capa de Dullmea e Ricardo Pinto.
Apoios:
República Portuguesa – Cultura I DGARTES – Direção-Geral das Artes
Antena 2
Arte Institute – Portuguese Contemporary Culture
Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura
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